Disco: “Fragrant World”, Yeasayer

/ Por: Cleber Facchi 07/08/2012

Yeasayer
Experimental/Psychedelic/Electronic
http://www.yeasayer.net/

Por: Fernanda Blammer

As comparações entre o trabalho do Yeasayer com a obra do Animal Collective sempre foram constantes e praticamente inevitáveis. Desde que a banda lançou o primeiro disco, All Hour Cymbals, em 2007 que a aproximação com os conterrâneos do Brooklyn se anunciava em cada mínimo acorde das sempre instáveis e experimentais composições do grupo, proposta que também delimita a totalidade da discografia projetada pelo coletivo animal. Com o terceiro registro oficial em mãos, à medida que a banda desenvolve o novo projeto vê-se claramente um distanciamento dessa estrutura, aspecto que conduz toda a formação do pop eletrônico e involuntariamente experimental do novo disco.

Depois da boa forma assumida dentro do ótimo Odd Blood (2010), em Fragrant World (2012, Mute) torna-se visível a necessidade do Yeasayer em explorar um novo campo instrumental. Dentro dessa escolha por evoluir, a banda desenvolve um som que explode em referências eletrônicas ainda mais sintéticas do que as que se apoderaram do lançamento passado. Longe das volumosas massas de som que permeavam todo o último álbum, em nova fase o grupo deixa de lado os versos fáceis e as melodias delicadas para assumir um resultado que mantém na força cinza das formas (e da capa) um delineamento complexo e até inacessível em alguns instantes.

Provavelmente a mudança mais latente dentro do presente álbum está na quase completa inexistência de hits ou singles de grande alcance comercial. Por mais que algumas músicas até apostem em um resultado acessível ao grande público – algo bem expresso em Longevity e Henrietta -, falta ao disco a mesma natureza convidativa do projeto anterior. Quem espera pelos versos épicos de Ambling Alp, o romantismo lisérgico de I Remember ou mesmo o clima dançante de ONE provavelmente deve acabar se decepcionando ao longo do novo disco. É como se a banda simplesmente descartasse as formas atrativas do projeto passado em prol de um álbum sério e naturalmente penoso.

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Se antes tudo florescia de maneira colorida, como uma imensa good trip recheada por cores e formas distintas que se agrupavam de maneira constante, hoje tudo rui de forma suja, convencional e desinteressante em vários momentos. Longe de soar como uma continuação ou evolução assertiva do trabalho passado, em Fragrant World a banda até tenta apostar em um tratado de sensações “renovadas”, resultado que lentamente contribui para um desmoronar completo das formas que bem definem o novo disco. Ao mesmo tempo em que se afasta das possíveis comparações com a obra do Animal Collective, a banda acaba se distanciando de elementos poderosos que antes os auxiliavam na construção de um projeto complexo e rico em detalhes.

Ainda que exista o esforço de inovar em alguns instantes da obra, como nos ruídos sintéticos de Fingers Never Bleed, no ritmo não óbvio de No Bones e até na melancolia de Glass of the Microscope, quanto mais tempo passamos dentro do álbum, menos ele revela acertos e mais evidencia desajustes. Tanto Reagan’s Skeleton como Demon Road traduzem essa estranha necessidade dos nova-iorquinos em se entregar a construção de um som eletrônico e distante da mesma densa camada de referências que antes se abrigavam na obra do grupo. É como se em diversos momentos a banda encontrasse apoio nas redundâncias do synthpop oitentista, impedindo a criação de um projeto denso e musicalmente rico como no passado próximo que acompanha o grupo.

Longe de parecer como um projeto de transição para algo maior e mais complexo, em Fragrant World o Yeasayer estabelece o que parece ser um óbvio distanciamento da beleza instrumental de outrora. Por mais que o trabalho até seja capaz de agradar em diversos momentos (como nas faixas acima mencionadas), falta o carisma e a explosão de sons, cores e versos marcantes que tanto nos cativaram há dois anos, resultado que a banda passa longe, muito longe, de repetir no decorrer do trabalho. Felizmente ainda temos os anteriores discos da banda para nosso agrado e lisérgico deleite.

Fragrant World (2012, Mute)

Nota: 6.8
Para quem gosta de: Animal Collective, MGMT e Bear In Heaven
Ouça: Henrietta, Glass of the Microscope e Fingers Never Bleed

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.