Disco: “Free The Universe”, Major Lazer

/ Por: Cleber Facchi 18/04/2013

Major Lazer
Electronic/Dancehall/Reggae
http://majorlazer.com/

 

Por: Cleber Facchi

Major Lazer

Em constante produção desde o começo da década passada, a obra de Diplo oscila de forma natural por instantes de acerto inegável e erro. Se por um lado os registros solos do produtor não parecem nem perto de impressionar – tamanho o caráter artificial dos sons -, quando voltamos os olhos para as constantes parcerias, a surpresa parece ser a reação mais imediata em torno da obra do artista. Da relação assertiva com M.I.A., passando por Santigold, Robyn, Beyoncé, Usher, Katy B e até Justin Bieber, a presença do produtor parece vir como um acréscimo necessário. Uma relação aprimorada em 2009 com o lançamento de Guns Don’t Kill People… Lazers Do, estreia do projeto Major Lazer, mas que desaba quase por completo com a chegada de Free The Universe (2013, Secretly Canadian).

Enquanto o primeiro álbum – registro sobre o universo fictício do personagem animado Major Lazer – dava conta de amarrar todas as canções dentro de uma mesma medida sonora, hoje Diplo não parece nem perto de repetir o mesmo êxito. Por mais distintas que fossem as invenções puxadas pelo produtor há quatro anos, tudo se movimentava dentro de um cenário uniforme banhado pelo Dancehall, ritmos periféricos e sons estruturados em uma proposta semi-tropical. Uma porção de acertos cativantes que se estendiam da eletrônica em Hold the Line ao funk carioca do hit Pon De Floor. Elementos prontamente eliminados assim que You’re No Good abre as portas do atual projeto.

De forma bastante aproximada e curiosa, o disco se relaciona íntimo do que a dupla N.A.S.A. construiu em 2009, com o também fraco The Spirit of Apollo. Imenso jogo colaborativo – que inclui Kanye West, Santigold, Lovefoxx, Lykke Li e uma variedade de outros artistas em um mesmo cenário pseudo-criativo), a estreia da dupla Squeak e DJ Zegon parece ter o mesmo efeito reaproveitado no novo álbum de Diplo e seus parceiros: uma obra que funciona parcialmente ao vivo (vide a passagem pelo último Lollapalooza Brasil), mas que morre em estúdio. Músicas que atiram em todas as direções, como se fosse importante ao produtor a individualidade inexata de cada faixa, e nunca o todo.

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O maior problema do álbum não está na quebra constante dos sons e na ausência de uma linearidade, mas no caráter descartável de boa parte das músicas. Basta a redundância expressiva de Wind Up, canção que sobrevive das sobras do último registro, para perceber a irregularidade que se manifesta pelo trabalho. Tudo é orientado dentro de uma estrutura demasiado plástica, como se todas as canções fossem feitas às pressas e sem o mínimo cuidado. O que mais surpreende (e consequentemente decepciona) está em perceber que toda a série de EPs Lazer Strikes Back, pensada para divulgar o novo disco, consegue fluir de maneira muito mais criativa e convincente do que o álbum como um todo.

Mesmo a instabilidade e o tom descartável do disco não impedem que pequenos fragmentos de acerto sejam descobertos na extensão do trabalho. É o caso de Get Free, hoje velha conhecida do público e parceria que encontra nos vocais excêntricos de Amber Coffman (Dirty Projectors) uma solução inventiva para as músicas de Diplo. Pacata em relação a tudo o que circula pelo restante da obra (ou mesmo no disco anterior), a faixa compartilha a mesma sonoridade em Jessica, canção que manifesta nos vocais de Ezra Koenig (Vampire Weeknd) um universo paralelo aos sons eletrônicos do disco.

É preciso notar que nem só de canções mais brandas sobrevive criativamente os pontos mais importantes do álbum. Watch Out For This, por exemplo, consegue valorizar a mesma proposta intensa do primeiro disco, encontrando no cruzamento com batidas tribais uma ferramenta de afastamento aos sons redundantes que sobrevivem no decorrer do projeto. Surgem ainda faixas como Keep Cool e até Playground, capazes de entusiasmar sem grandes esforços. O problema é que depois da salada de sons excêntricos que Diplo espalha pelo disco, a maior liberdade não está no título do trabalho, mas em se livrar dele.

 

Major Lazer

Free The Universe (2013, Secretly Canadian)

Nota: 4.5
Para quem gosta de: Diplo, Santigold e Crookers
Ouça: Get Free e a série Lazer Strikes Back

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.