Disco: “Fuck Off Get Free…”, Thee Silver Mt. Zion Memorial Orchestra

/ Por: Cleber Facchi 23/01/2014

Thee Silver Mt. Zion Memorial Orchestra
Post-Rock/Experimental/Alternative
http://www.tra-la-la-band.com/

Por: Cleber Facchi

Canadian

Nem só de nomes que mudam a cada novo projeto sobrevive a canadense Thee Silver Mt. Zion Memorial Orchestra. Desde o nascimento no final da década de 1990, quando ainda se chamava A Silver Mt. Zion, o projeto comandado por Efrim Menuck do Godspeed You! Black Emperor parece assumir uma trilha isolada dentro do universo orquestral do Pós-Rock. Longe da aura mística de outros projetos europeus, e livre da estética matemática instalada em solo estadunidense, o grupo de Montreal, Canadá, alcançar o mais novo trabalho de estúdio em um princípio de reformulação.

Distante de qualquer organização sutil ou estética que se aproxime da fase atmosférica da banda, Fuck Off Get Free We Pour Light on Everything (2014, Constellation) guia o espectador por entre arranjos ascendentes e versáteis. Tendo como base a composição excêntrica de Fuck Off Get Free (For the Island of Montreal) e Austerity Blues, faixas de abertura do trabalho, o disco segue em um imenso ziguezaguear de tendências, indo do Jazz ao rock clássico sem qualquer ponto de apoio. Como o debut He Has Left Us Alone… anunciou há 14 anos, a incerteza é a única garantia para o ouvinte.

Motivado pela estrutura alcançada em ‘Allelujah! Don’t Bend! Ascend! (2012), último álbum do GY!BE, Menuck passeia livremente por um cenário de vozes e sons quebrados, um princípio para capturar e imediatamente brincar com as percepções do espectador. Mais do que uma morada para a assinatura do músico canadense, o disco autoriza cada integrante – Thierry Amar, Sophie Trudeau, Jessica Moss e David Payant – a brincar com os experimentos. Uma orientação que preenche com novidade e constante quebra cada nova música do trabalho.

Mesmo de arquitetura instável, de forma alguma o álbum pode ser traduzido como uma obra “desorganizada”. Pelo contrário, cada música, por mais ruidosa que possa ser, mantém todos os instrumentos e vozes em um espaço de forte proximidade. Também curioso é perceber o quanto a extensa duração de algumas músicas, apenas potencializam o caráter de organização do grupo. Enquanto Little Ones Run, com pouco mais de dois minutos de duração, soa como uma quase insignificante canção melancólica, What We Loved Was Not Enough e seus mais de 12 minutos cresce, muda de direção e comove em uma estrutura muito mais atrativa.

Como uma resposta ao comodismo de obras do gênero, Fuck Off Get Free… expulsa a redundância do Pós-Rock, alcançando outros gêneros sem parecer inclinado a isso. Como uma trupe de ciganos, o quinteto espalha vozes, instrumentos acústicos e elétricos sem necessariamente se acomodar em um ponto específico. Nada é igual ao que a faixa de abertura parece proclamar. Mais do que um reduto de experimentos musicais diversos, o disco usa da voz como uma ferramenta de caos, indo das vozes berradas, em Austerity Blues, aos sons de diálogos na música de encerramento. Uma sensação de que discografias inteiras são construídas e derrubadas em segundos.

Se por um lado o disco perde o toque de surpresa por conta da atuação de Menuck em ‘Allelujah! Don’t Bend! Ascend!, por outro lado o descarrilamento das faixas instiga o espectador a todo o instante. Como um catálogo desfigurado de ideias, o disco extrai o que há de mais insano nas inspirações de cada membro. Um efeito que transforma a obra em um trabalho a ser constantemente revisitado: em busca de cada fagulha ou mínimo traço lírico-instrumental.

 

Fuck Off Get Free We Pour Light on Everything (2014, Constellation)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Godspeed You! Black Emperor e Swans
Ouça: Fuck Off Get Free (For The Island Of Montreal) e Austerity Blues

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.