Disco: “Fuerteventura”, Russian Red

/ Por: Cleber Facchi 12/05/2011

Russian Red
Spanish/Female Vocalists/Folk
http://www.myspace.com/russianready

Por: Fernanda Blammer

Tão suave quanto sua voz, a bela Lourdes Hernández ou Russian Red aportou nos players de música do mundo todo através da adocicada estreia I Love Your Glasses (2008), um jogo de faixas açucaradas, banhadas pela melancolia e por um vocal convidativo e aconchegante. Passados três anos desde que a musicista de Madri se revelou para o mundo, Fuerteventura (2011), seu novo álbum, retoma a mesma calmaria encontrada no debut, entretanto, a jovem se desfaz dos arranjos módicos de outrora em prol de um instrumental levemente ampliado e ainda assim intimista.

Apesar da origem hispânica, Henández opta em suas composições pelo inglês, pensando na universalidade das canções e numa abrangência maior de acesso, porém, a beleza do trabalho da artista não está na escolha do idioma em si, mas na sensibilidade e, principalmente, na sinceridade repassada tanto por seus vocais, quanto pelas cândidas, amarguradas e singelas melodias por ela elaboradas. Assim como evidenciava seu sofrimento em faixas como Cigarretes, No Past Land e Timing Is Crucial no primeiro disco, com o novo trabalho somos assolados por mais uma carga de lamentos e versos da mais pura e verdadeira tristeza.

Enquanto no trabalho de 2008 o sentimento de abandono estendia suas raízes por todas as faixas, com a catalã assumindo sozinha os vocais e os arranjos instrumentais do disco, com o presente trabalho há uma maior participação de outros elementos musicais, arranjos vocais variados e não mais o aspecto reducionista da estreia. A cantora que antes subia em um palco imaginário, acompanhada apenas de seu violão, agora chega protegida por um pequeno corpo de instrumentistas, embora a dor e as angústias ainda sejam as mesmas.

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A escolha por uma sonoridade mais abrangente dentro de  Fuerteventura de certo modo faz com que Russian Red perca um pouco das mesmas peculiaridades encontradas em seu primeiro disco. Se antes o álbum era todo dela, aqui a garota parece dividida entre uma Jenny Lewis menos country e uma Joanna Newson menos épica, um meio termo que pende esporadicamente para o pop. Entretanto, isso não se torna um empecilho para o álbum, que encontra nessa múltipla manifestação de sons espaço para que acalentadoras canções como I Hate You, But I Love You possam surgir, algo que dificilmente seria encontrado no trabalho de estreia por conta de sua “exigência” instrumental.

Ao mesmo tempo em que desenvolve canções mais complexas dentro do mesmo campo romântico-sofredor do disco de estreia,  Hernández se permite passear por novas sonoridades, como a encontrada na canção Tarantino. Homenageando o diretor de filmes domo Pulp Fiction, Kill Bill e Cães de Aluguel, a cantora dá um toque de pop sessentista e climático à faixa em algo que se melhor construído até poderia ser encontrado nos trabalhos do cineasta. Ainda na mesma pegada 60’s, Russian Red dá vida à January 14th, algo completamente oposto de tudo que a cantora já tenha desenvolvido, faixa que traz inclusive alguns toques de surf music.

É claro que as tradicionais canções puramente acústicas ou que remetam ao trabalho de estreia da artista ainda são encontradas.  Os melhores exemplos disso são A Hat e Nick Drake, mas que mesmo assim chegam acompanhadas de alguns elementos adicionais, diferentes do aspecto exposto em  I Love Your Glasses. Embora o foco do trabalho seja o mesmo do anterior, exaltando amores que não deram certo ou confissões de uma jovem adulta, seria de se estranhar se a mesma fragilidade de outrora fosse ainda empregada, algo que Hernández e toda a soma de instrumentos expostas no novo álbum conseguem superar, dando sequência a um trabalho que deve crescer ainda mais.

Fuerteventura (2011)

Nota: 7.6
Para quem gosta de: Jenny Lewis, Bright Eyes e Mallu Magalhães
Ouça: I Hate You, But I Love You

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.