Disco: “Galaxy Garden”, Lone

/ Por: Cleber Facchi 10/05/2012

Lone
Electronic/IDM/Dance
https://www.facebook.com/magicwirelone

Por: Cleber Facchi

Darren Cunningham e Matt Cutler, mesmo distantes parecem estar dentro de um mesmo ambiente musical. Enquanto o primeiro, produtor responsável pelo Actress, tem se envolvido cada vez mais com fórmulas instrumentais minimalistas e construções sonoras nitidamente atmosféricas, o segundo, homem à frente do projeto Lone, parte em busca de um som levemente ensolarado, mas ainda assim próximo do que é comandado pelo compatriota britânico. O que aproxima trabalhos tão díspares não está relacionado a um único ponto musical em comum, mas sim a vários, referências que afloraram na eletrônica da década de 1990 e hoje ecoam tão novas quanto há 15 ou 20 anos, quando foram lançadas.

Explorando o mesmo território desbravado por Cunningham no lançamento do ainda fresco R.I.P. – uma das maiores obras da eletrônica recente -, Cutler se deixa conduzir pela mesma Intelligent Dance Music (IDM) que cada vez mais tem caracterizado o trabalho de uma série de produtores contemporâneos. Todavia, enquanto Actress desemboca em um som denso, obrigatoriamente suave e introspectivo, Lone opta pelo oposto, quer ver luzes, cores e pessoas dançando. O produtor parece constantemente cercado por figuras coloridas que atuam de acordo com os beats frenéticos e quebras constantes que movimentam o amplo Galaxy Garden (2012, R&S), trabalho que aprimora todas diretrizes do britânico de maneira cativante. Uma evolução natural dos pequenos compostos montados pelo inglês ao longo dos últimos anos .

Talvez o elemento que mais aproxime os dois trabalhos – e até melhor aproveitado na obra de Cutler – seja a sonoridade nitidamente inspirada nos discos arquitetados por Richard David James (Aphex Twin). Veterano da cena eletrônica dos anos 90, o britânico tem os álbuns utilizados como bíblias, influências essenciais por boa parte dos produtores recentes. Com Cutler não é diferente. O artista vai até os clássicos …I Care Because You Do (1995) e Richard D. James Album (1996) para encontrar em faixas como Corn Mouth e Yellow Calx parte fundamental do que movimenta o jardim galáctico que ele ostenta. Inspirado, Lone conta ainda com um elemento essencial para o acerto do novo disco: o clima quente.

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Distante da atmosfera densa que se apodera de grande parte dos artistas vindos da industrial Manchester – vide Joy Division e outros representantes locais -, Cutler encara a busca por um som festivo, rico em detalhes e sempre direcionado para a dança. Não estranha que em diversos momentos, principalmente em músicas como The Animal Pattern e Crystal Caverns 1991, seja possível estabelecer certa aproximação com os batuques nacionais. A quentura de algumas faixas mantém essa funcionalidade constante, permitindo ao produtor que o disco mergulhe em uma sonoridade naturalmente dançante, mas jamais óbvia ou convencional.

Em tempos de proliferação do dubstep, Galaxy Garden e o ritmo ascendente das faixas que o compõe surge como uma espécie de quebra das redundâncias ou padrões atualmente estabelecidos. Longe de qualquer enquadramento demasiado experimental ou complexo, o disco ecoa fácil nos ouvidos de qualquer ouvinte, logo não é difícil se encantar por músicas banhadas por um contexto mais comercial (New Colour e Raindance) ou mesmo faixas mais exigentes, algo visível na ambiental Dragon Blue Eyes. Lone, entretanto, sabe que a força do registro está na aproximação com o grande público. Logo, tanto que Cthulhu e Dream Girl/Sky Surfer apostam justamente nessa fórmula, incorporando uma soma de elementos tipicamente dançantes e convidativos, algo essencial para qualquer disco efusivo de música eletrônica, mas por vezes esquecido por alguns produtores.

Espécie de irmão menor (e hiperativo) do magistral Music Has the Right to Children do Boards Of Canada, Galaxy Garden se locomove como um álbum típico de um artista em crescimento, como se Matt Cutler ainda estivesse em busca de uma estrutura musical apenas dele, um som particular, mas de natureza compartilhada e ampla. Logo, se o presente álbum ainda é o resultado de um artista em “fase de crescimento”, o que dirá quando este alcançar a fase adulta. Enquanto a maturidade não chega, Cutler se diverte, arrastando todo e qualquer ouvinte para junto desse jardim de cores, sonoridades e batidas que parecem (felizmente) nunca cessar.

Galaxy Garden (2012, R&S)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Aphex Twin, Flying Lotus e Actress
Ouça: Cthulhu e Crystal Caverns 1991

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.