Disco: “Gana Pelo Bang”, Lurdez da Luz

/ Por: Cleber Facchi 09/09/2014

Lurdez da Luz
Hip-Hop/Rap/Pop
http://www.lurdezdaluz.com/

Por: Cleber Facchi

Lurdez da Luz está longe de ser uma iniciante. Mesmo que o primeiro trabalho solo da rapper paulistana seja apresentado somente agora, Gana Pelo Bang (2014, YB Music), são quase duas décadas de projetos em parceria, colaborações e toda uma bagagem imensa de composições – experiência raramente igualada dentro do produção brasileira. Da parceria com Rodrigo Brandão no Mamelo Sound System, passando pela série de faixas ao lado de diferentes nomes do rap nacional – ou mesmo além dele, como Lucio Maia e Garotas Suecas -, maturidade é o que não falta para a presente “debutante”,  aspecto refletido na segurança do novo lançamento de estúdio.

Norteado pela mesma composição do EP homônimo de 2010, o trabalho de 10 faixas aos poucos se distancia da atmosfera inicial lançada por Da Luz, revelando ao público um material totalmente inédito. Mais do que um olhar atento sobre a periferia de São Paulo, Gana Pelo Bang dialoga de forma explícita com diferentes cenários, pessoas e principalmente ritmos nacionais. Uma espécie de passeio pela periferia brasileira sem necessariamente fugir do território urbano/cinza há décadas sustentado pela rapper – liricamente versátil em toda a construção do álbum.

Parte dessa carga de referências flutua com naturalidade na composição instrumental do disco. Funk carioca em Mente Aê, ritmos nordestinos no interior de Ping Pong e até passagens fragmentadas pela cultura nortista – como as variações de Technobrega na romântica Beijinho. Postura inédita para quem descobriu o trabalho da rapper no EP de 2010, grande parte dessa colagem de referências antecede a fase solo de Da Luz, esbarrando em temas e pequenas imposições musicais já alcançadas em Velha-Guarda 22 (2006), ainda com o Mamelo Sound System.

A diferença talvez esteja no ritmo (sempre) intenso dado ao disco, efeito reforçado pelo time de produtores que trabalham de forma cooperativa ao longo de toda a obra. Com Leo Justi, Nave e a dupla Stereodubs como produtores do álbum, Da Luz segue em ritmo frenético até o último instante do trabalho. Tão intenso (Fervo), quanto dançante (Poder), o disco cresce como uma colisão de temas, samples e batidas propositadamente instáveis, matéria volátil aos poucos amarrada pela rima firme e ainda melódica da rapper.

Tão próxima de M.I.A. em Matangi (2013), quanto de Karol Conká em Batuk Freak (2013), Da Luz e convidados como Russo Passapusso e Marietta Vidal solucionam uma obra de linguagem universal. A julgar pelo acervo de versos fáceis que preenchem parte do disco, não seria um erro afirmar que esta é a obra mais simples e ainda assim complexa da rapper. Do cruzamento entre vozes e batida na autoral Mama Drama (“Mama que aqui está/ Mama só quer dançar“), passando pela fluidez grudenta de Ping Pong (“Aqui é na bolinha, fio/ É Ping-Pong/Ping-Pong“) e Beijinho (“Não vou deixar você sair sem me dar um beijinho“), há sempre uma ferramenta de amarra – lírica ou musical – capaz de despertar a atenção do ouvinte, preso ao fluxo direto da obra sem grandes dificuldades.

Assim como o convidado Russo Passapusso, em Paraíso da Miragem (2014), Da Luz entrega um trabalho íntimo da própria essência, mas sem deixar de flertar com outros ritmos e diferentes campos da música nacional – principalmente os que se relacionam com as pistas. Há sobriedade (Naija), romantismo (Beijinho) e descompromisso (Ping Ping); elementos, rimas e formas autorais temporariamente tingidos com explícita novidade.

 

Gana Pelo Bang (2014, YB Music)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Karol Conká, Flora de Matos e Mamelo Sound System
Ouça: Fervo, Ping Pong e Beijinho

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.