Disco: “Gang do Eletro”, Gang do Eletro

/ Por: Cleber Facchi 05/04/2013

Gang do Eletro
Brazilian/Electronic/Eletromelody
http://www.gangdoeletro.com.br/

 

Por: Cleber Facchi

gang do eletro

Não há nada mais brilhante, pegajoso e inventivo hoje no Brasil do que a cena musical de Belém. Os “cultos” torcem o nariz, quem é apaixonado pelo rock finge que não existe, mas o povo e até os moderninhos dançam como nunca antes dançaram. Há quem chame de piada, e diga até que a graça já acabou. Tem ainda quem afirma ser o equivalente ao Manguebeat na década de 1990, mas uma coisa é certa: o que toma conta da música paraense atual não chega nem perto de ser uma brincadeira, gruda nos ouvidos feito chiclete e está longe de soar como algo tolo ou inexistente. Se Felipe Cordeiro e Gaby Amarantos abriram as portas, é com o primeiro álbum da Gang do Eletro que somos de fato apresentados a esse estranho e colorido universo.

O ouvinte pode até firmar extensos estudos culturais para traçar a origem do que abastece o trabalho da banda, mas isso parece ser o menos importante nas 10 faixas que impulsionam o disco. Como anunciam os vocais entusiasmados de Piripaque: “Quem tá doido que se segure, por que a festa vai começar meu DJ”. Surgindo como se fossem índios da Tribo Neon, Maderito, Keila e William Love estampam a capa, dançam e cantam sem pausas durante mais de 30 minutos, deixando aos comandos do cacique Waldo Squash o sintetizar de tambores, ritmos e referências orgânicas de forma a reproduzir um som essencialmente eletrônico. Um jogo bem elaborado de faixas rápidas e que praticamente obrigam o ouvinte a dançar.

Embora se manifeste como a primeira grande obra do quarteto, o álbum nada mais é do que constatação comercial de tudo o que a banda vem construindo desde 2009, quando foi montada. Concentrado no ambiente cotidiano de Belém, festas de aparelhagem e em composições que lidam com o romantismo de forma tão confessa que beira o Brega, o registro, contra todas as expectativas, não custa a posicionar o ouvinte no mesmo cenário da banda. São composições simples, mas nunca vazias, faixas que mantém no toque semi-cômico o mesmo descompromisso pop que décadas antes consolidou a carioca Blitz e outros fanáticos pelos sintetizadores.

 

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Por falar no clima pop dos anos 1980 e em tudo o que foi construído há mais de três décadas, é na utilização dos teclados, elemento tão caricatos do período, que a banda constrói boa parte do trabalho. Enquanto o trio de vozes se desdobram em composições tomadas pelo romantismo (Dança no Salão), temáticas periféricas (Velocidade do Eletro) ou apenas faixas pensadas para a dança (Só no Charminho), Squash esbanja referências e solos que causariam inveja ao Daft Punk. É possível encontrar desde homenagens sinceras ao trabalho de gigantes como Kraftwerk (em Eletro do Robô), até canções que garantem um toque “futurístico” à marcas essencialmente orgânicas, vide a cumbia robótica em Una Cosa ou o regionalismo de Esquenta carregado pela levada do Eletromelody.

Verdadeiro liquidificador de tendências regionais e estrangeiras, Gang do Eletro (o disco) em nenhum instante se distancia de quem talvez não esteja acostumado aos sons que há tempos impulsionam o quarteto ou mesmo toda a cultura nortista. Com letras movidas por um nítido descompromisso pop, o álbum parece antecipar aquilo que Diplo e outros produtores devem assumir como “novidade” em alguns anos. São faixas como Vamos De Barco (com um duelo de versos que muito se aproximam do Rap norte-americano) ou mesmo Galera da Laje, faixas que transformam tudo aquilo que M.I.A, Santigold e tantos outros estrangeiros vêm experimentando há tempos em algo criativo, nacional e, claro, sempre dançante.

Desprovido do mesmo “compromisso” conceitual que marca o trabalho de Felipe Cordeiro, Amarantos ou mesmo de veteranos a exemplo de Dona Onete, o álbum de estreia da Ganga Do Eletro assume como único propósito a diversão – apenas não confunda com a “diversão” pasteurizada que alimenta a Banda Uó. Distante de parecer um registro banal, o álbum alcança um efeito curioso ao lidar com esse tipo de som: parece fluir como um trabalho tão efetivo e atraente quanto qualquer outro registro de acertos “sérios” ou possível maturidade aprimorada. Assim como as marcas que definem a música paraense, a estreia de Waldo Squash e seus parceiros está longe de se manifestar como um retrato tolo, mas que ainda assim, gruda feito chiclete.

 

Gang do Eletro

Gang do Eletro (2013, Deckdisc)

 

Nota: 8.4
Para quem gosta de: Gaby Amarantos, Felipe Cordeiro e Jaloo
Ouça: Dança no Salão, Velocidade do Eletro e Esquenta

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.