Disco: “Gaveta”, Phill Veras

/ Por: Cleber Facchi 06/12/2013

Phill Veras
Brazilian/Indie/Alternative
https://www.facebook.com/PhillVeras

Por: Cleber Facchi

Phill Veras

Phill Veras cresceu muito em pouco tempo. Das primeiras canções que apareceram pela internet, passando pelos shows cada vez mais cheios, até a chegada do EP Valsa e Vapor, cada fase do músico maranhense foi encarada com plena maturidade e ainda assim nítida descoberta. Não por acaso ao alcançar Gaveta (2013, Oi Música), primeiro registro em estúdio, todas as canções assinadas pelo jovem músico refletem a projeção madura alcançada ao longo dos meses. Um desdobramento adulto das palavras e que em comunhão com os sons, apenas reforçam o quanto o artista parece longe de alcançar algum possível estágio de conforto.

Sem se desprender da atmosfera branda proposta para o último EP, o cantor ocupa toda a construção da presente obra com as próprias memórias, amarguras e doses imoderadas de confissões. A “gaveta” que dá título ao disco, mais do que uma representação física, objetificada, se apresenta como uma passagem para o coração e a mente melancólica do jovem músico. Um ambiente reservado para os sentimentos mais ocultos. Por mais piegas que possa parecer, é justamente esse mesmo jogo de exageros e completa entrega que orienta toda a formação da obra – um registro que pertence tanto a Phill Veras, como ao próprio ouvinte.

A diferença em relação ao último registro assinado por Veras – e até se observarmos as primeiras apresentações ao vivo -, está no uso de faixas mais consistentes, que buscam pela grandeza. Se Depender de Mim, por exemplo, música já conhecida do público, reforça com atenção todo esse tratamento então contido em canções aos moldes de Valsa e Vapor e Acabou de Acabar. Menos íntimo da essência de Marcelo Camelo, e toda a geração de artistas que nasceram em sequência ao hiato do Los Hermanos, o cantor firma identidade, exercício que força a condução de faixas cada vez mais volumosas e intensas, caso de Basta a Coragem e A Máquina.

Além da explícita relação com o trabalho de uma série de artistas recentes – indo de Cícero a Fernando Temporão -, muito do que conduz o universo isolado de Veras vem da obra de veteranos da música nacional. Está na lírica “feminina” de Chico Buarque (Mulher), no jogo melódico das palavras de Caetano Veloso (Já Vou Tarde) e até a bossa nova de João Gilberto (Faz). Um catálogo gigante de discos, versos e essências que aos poucos são resgatadas de dentro gaveta criativa do compositor. A diferença em relação a avalanche de artistas brasileiros, também sustentados pela mesma estética, está na homogeneidade que conduz o disco. Ao dominar em totalidade o pequeno universo que apresenta, Veras parece desviar de possíveis tropeços, revelando ao ouvinte um catálogo de pequenos acertos.

Ainda que carregue sozinho o título e os versos que definem o trabalho, Phill Veras é um artista que depende de banda que o cerca durante toda a construção da obra. Dos pianos sutis que passeiam com leveza pelo disco, passando pelo bem solucionado enquadramento da guitarras e bateria, tudo contribui para o rompimento da estética deveras reclusa que o álbum poderia ter assumido. Mesmo nos vocais ou quando assume individualmente os violões, o cantor nunca caminha solitário, puxando coros de vozes ou mesmo a bem explorada colaboração com Ana Larousse, em Faz.

Despretensioso e ainda assim atento ao manuseio específico de cada verso, arranjo e voz, Gaveta é um trabalho que brinca com os exageros da MPB, sem necessariamente se deixar conduzir por eles. Ao trazer para dentro do disco o mesmo teor de comoção e grandeza que se instala nas apresentações ao vivo, Phill Veras garante ao ouvinte um obra que vai além de algumas audições ou um diálogo específico com o próprio público. Trata-se de uma obra que mesmo singela, ecoa grandeza e sabe exatamente onde quer chegar. Um disco que se distancia do enquadramento reservado e cada vez mais aponta para longe do isolamento de seu criador – sempre para fora da gaveta.

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Gaveta (2013, Oi Música)

Nota: 8.2
Para quem gosta de: Cícero, Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante
Ouça: Se Depender De Mim, Faz e Cambota

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.