Disco: “Geidi Primes”, Grimes

/ Por: Cleber Facchi 10/12/2011

Grimes
Experimental/Electronic/Psychedelic
http://www.myspace.com/boucherville

Por: Fernanda Blammer.

 

Claire Boucher parece ser a única habitante de um universo inteiro criado e administrado apenas por ela. Canadense, dona de um visual excêntrico e propagadora de um som tão extravagante quanto si própria, a musicista usa de cada uma de suas canções como uma ferramenta para ilustrar e representar mínimas partes do que é esse ambiente estranho que a envolve. Um lugar onde camadas suaves de distorção, pianos saltitantes, vozes doces e batidas exploradas de forma instável vão se agregando e dando formas a seres fantásticos, criaturas tão peculiares quanto a própria Boucher.

Dona de uma sonoridade que parece dialogar com projetos como Sleep ∞ Over e (em menor escala) Peakign Lights – grupos também detentores de um universo musical próprio -, Grimes encontra reforço tanto nos anseios mágicos do Dream Pop como na tonalidade mística da música psicodélica, utilizando de uma soma de experimentos ruidosos e suaves para preencher todas as possíveis lacunas de sua obra. Com todo este acumulado, o resultado final se resume em Geidi Primes (No Pain in Pop/Arbutus), 31 minutos de adoráveis experiências sonoras que se instalam confortavelmente nos ouvidos do espectador.

Se a abertura do álbum ao som sujo de Caladan parece acionar um mecanismo de afastamento para os despreparados, aos poucos a composição – assim como as faixas seguintes – vão se transformando em uma sucessão de músicas envolvente, faixas caracterizadas pela experimentação, mas capazes de flertar e assimilar a música pop com todas as principais características do gênero. Dentro desse aspecto dicotômico, Boucher vai construindo as 11 canções do disco, produzindo um trabalho que mesmo envolvente se afasta de todos os exageros e prováveis clichês que tomam conta de projetos mais comerciais.

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Por mais que consiga disseminar vários acertos quando mergulha de vez no experimentalismo – algo bem representado em músicas como Shadout Mapes e Venus In Fleurs – a grande beleza na obra de Grimes está no pequeno reduto de versos quase óbvios ou na instrumentação natural que a artista propõe em alguns momentos ao longo do disco. É o caso de faixas como Rosa, em que toda a experimentação é convertida em pouco mais de três minutos de versos incompreensíveis, porém, melódicos e pegajosos, quase uma versão menos tribal do que o Gang Gang Dance evidencia no decorrer do recente Eye Contact.

Outro grande ponto positivo dentro de Geidi Primes está na multiplicidade de instrumentos e caminhos que a musicista acaba percorrendo. Diferente de outros projetos que parecem se apropriar de um único ritmo e manter isso como base até os últimos momentos, Grimes parece não se apegar a nenhuma estrutura musical, desenvolvendo um trabalho que engloba tanto elementos da música eletrônica, freak folk, uma pitada de noite e, claro, música pop explorada de maneira extremamente peculiar. Muitas vezes toda essa multiplicidade de ritmos acaba se revelando em uma única faixa, tornando a obra da canadense ainda mais vasta.

Escrito, tocado e gravado em sua quase totalidade pela própria cantora, o álbum revela uma série de pequenas limitações ao mesmo tempo em que imprime marcas e características bem visíveis que só Grimes parece deter. Geidi Primes não é uma obra prima, tampouco um dos grandes álbuns de 2011, entretanto, os minutos que se passa dentro do disco são simplesmente preciosos, com a canadense nos surpreendendo em cada nova esquina do trabalho.

Geidi Primes (No Pain in Pop/Arbutus)

 

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Sleep ∞ Over, Peaking Lights e Puro Instinct
Ouça: Zoal Face Dancer e Rosa

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.