Coldplay
British/Pop/Electronic
http://www.coldplay.com/
Por: Cleber Facchi
Não existe melhor forma de movimentar a carreira de um artista – ainda mais se ele for veterano – do que um bom e amargurado término de relacionamento. De Fleetwood Mac em Rumors (1977) a Kanye West com 808s and Heartbreak (2008); da melancolia de Bob Dylan em Blood on the Tracks (1975) ao desespero de Fiona Apple com The Idler Wheel… (2012), cada registro sustentado pela separação parece capaz de perverter o óbvio, utilizando dos versos e arranjos clichês como um princípio de honestidade. Exercício (criativo) há décadas funcional para qualquer artista, mas consumido pelo erro dentro da proposta “econômica” de Chris Martin e o meloso Ghost Stories (2014, Parlophone).
Ainda que assinado coletivamente pelo quarteto britânico, o sexto álbum “do Coldplay” nada mais é do que uma tradução da recente fase de Martin – vocalista e principal compositor da banda. Efeito da separação recente de Gwyneth Paltrow, além da crise que acompanha o (ex) casal há mais de dois anos (talvez mais), Ghost Stories é uma coleção de temas arrastados, versos que abraçam de forma plástica a tristeza, mas, que ao final da obra, apenas emulam aquilo que o grupo há tempos provou ser capaz de produzir: honestas canções de separação.
Não é preciso nem escapar da discografia do grupo ou buscar pelo trabalho do outros artistas para provar o presente tropeço do Coldplay – seria até pior. Volte os ouvidos para o começo dos anos 2000, quando Parachutes (2000) e A Rush of Blood to the Head (2002), mesmo tímidos e (excessivamente) melancólicos deram conta de reforçar o brilho de Chris Martin na hora de converter os próprios sentimentos em melodias. Shiver, The Scientist, Trouble e até os hinos In My Place e Yellow dão conta de reforçar o habilidoso domínio do compositor e a trinca de instrumentistas, algo que o novo disco sustenta como uma massa de sons frios e pré-fabricados em determinados momentos.
Longe do cenário criativo de Viva la Vida or Death and All His Friends (2008) e distante do apelo pop de Mylo Xyloto (2011), Ghost Stories é um regresso ao cenário “paumolecente” de X&Y (2005), até então, o registro mais fraco do grupo. Mesmo longe de Brian Eno – parceiro atento no álbum de 2008 -, tudo o que Chris Martin e os demais integrantes da banda buscam é forçar as experiências lançadas há décadas pelo veterano. Bastam os arranjos climáticos de Midnight ou a atmosfera acolhedora de Always In My Head para perceber o caráter copioso do novo disco. Apenas uma tentativa (falha) em se apoderar de conceitos lançados com Before and After Science (1977) e outras obras clássicas de Eno na década de 1970.
A “absorção” de outros registros não está apenas na relação com o velho colaborador, mas com uma série de artistas da presente cena norte-americana. Mesmo uma parcial surdez do ouvinte não consegue afastar os pequenos clones do folk eletrônico de Justin Vernon (Bon Iver) que se “escondem” por toda a obra – ouça Oceans. Isso sem contar na tentativa do grupo em apostar no autoplágio, revisitando em Another’s Arms e Magic diversos temas já apresentados nos discos passados, principalmente o fraco projeto de 2005.
Cercado por um time de produtores – entre eles Jon Hopkins, Paul Epworth e Tim Bergling -, Ghost Stories é a tentativa explícita da banda em se reinventar, mas sem necessariamente fugir dos velhos conceitos e fórmulas prontas. A julgar pela presença de Avicii quanto produtor de A Sky Full Of Stars, oitava e possivelmente a pior faixa do disco, o novo álbum do Coldplay bem poderia ser enquadrado como uma espécie de remix dos últimos discos. Uma mera coletânea de sobras e versões reeditadas por outros artistas, porém, contratualmente servidas como um cardápio frio de músicas inéditas. Sofrer já trouxe benefícios verdadeiros ao Coldplay, hoje, nem isso.
Ghost Stories (2014, Parlophone)
Nota: 3.0
Para quem gosta de: Snow Patrol, Keane e U2
Ouça: O
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.