Disco: “Gist Is”, Adult Jazz

/ Por: Cleber Facchi 13/08/2014

Adult Jazz
Experimental/Indie/Art Rock
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Por: Cleber Facchi

Por mais irônico que o título “Adult Jazz” possa parecer, não existe termo mais correto para traduzir o som proposto pelo grupo britânico em Gist Is (2014, Spare Thought). Efeito da coleção de ideias que ocupa a mente de cada integrante da banda – principalmente o vocalista e líder Harry Burgess -, cada ato do registro ecoa pensado de forma a provocar as percepções do ouvinte. Manipulações e pequenos improvisos que esbarram o território mais rico de qualquer clássico do jazz, mas em nenhum momento escapam do fino apelo “pop” da presente cena alternativa.

Mesmo carregado de comparações ao trabalho de Dirty Projectors e Grizzly Bear desde o single Springful, Gist Is é uma obra que escapa do território norte-americano e se concentra apenas no cenário inglês. Da herança do Pós-Rock conquistada pelo Talk Talk (ainda nos anos 1980), passando pela obra do Radiohead pós-Kid A, até alcançar o mesmo espaço de Foals (em Total Life Forever, 2010) e These New Puritans, cada fórmula dos novatos se acomoda em um expressivo terreno familiar.

Observado de forma atenta, cada ato do registro autoriza que a banda resgate uma série de conceitos há meses aperfeiçoados pelo These New Puritans no terceiro álbum de estúdio da banda, Field of Reeds, 2013. Mesmo o uso de colagens eletrônicas, percussão e samples de Spook ou Pigeon Skulls ecoam similaridades óbvias e já reforçadas em Hidden, trabalho de 2010 da mesma banda. Sobram ainda diálogos com o disco de estreia do Alt-J (An Awesome Wave, 2012) e até referências vindas de Two Dancers (2009) ou Smother (2011), da também vizinha Wild Beasts.

Interessante notar que dessa colcha de retalhos nasce todo o plano autoral do Adult Jazz. Mesmo apoiadas em um acervo de sons e fórmulas pré-fabricadas, cada (extensa) criação do álbum logo se distancia de um possível limite instrumental. São bases serenas que engatam em batidas tribais (Springful), vocalizações pop distorcidas pelo math-rock (Hum), e todo um conjunto de experiências – mesmo aquelas apresentadas nos primeiros singles – que logo passeiam por labirintos de curvas e sons completamente inexatos.

Entre curvas, instantes serenos e momentos de maior expansão, a voz mutável de Burgess logo assume um caráter de “reforço” para o crescimento do disco. De fato, é responsabilidade do vocalista ocupar as pequenas lacunas da obra, evitando que o trabalho sufoque pela própria colisão de ideias. Seja nas texturas de Spook ou na sutileza provocativa de Bonedigger, a voz de Burgess ao mesmo tempo reforça a estranheza, como assume o caráter “afetivo” do disco – quase suspenso em meio a instantes de puro experimento.

Naturalmente livre e inclinado movimento de ideias, Gist Is em nenhum momento escapa de um plano autoral já delineado pelo Adult Jazz. São manipulações de voz que surgem de forma espontânea, efeitos quebrados de percussão e bases instrumentais capazes de tecer o universo climático da banda. Recursos abrangentes e talvez estranhos para o ouvinte médio, mas que despertam e reforçam o completo fascínio ao longo de toda a travessia pela obra.

Gist Is (2014, Spare Thought)

Nota: 7.8
Para quem gosta de: Alt-J, Dirty Projectors e These New Puritans
Ouça: Spook, Springful e Pigeon Skulls

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.