Disco: “Glass Boys”, Fucked Up

/ Por: Cleber Facchi 06/06/2014

Fucked Up
Hardcore/Punk/Alternative
http://fuckedup.cc/

Por: Cleber Facchi

Fucked Up

Uma história de amor, e Damian Abraham deu ao Fucked Up uma das obras mais transformadoras do Hardcore no novo século. Claro que estamos falando sobre David Comes to Life (2012), terceiro registro em estúdio do grupo canadense e um assertivo exercício de transformar pequenos clichês em ferramentas funcionais nas mãos de uma banda. Porém, passada a rápida curva criativa, é hora do coletivo de Toronto voltar ao cenário “convencional” de outrora, proposta que converte Glass Boys (2014, Matador) em um regresso seco e, por vezes, pouco inspirado aos primeiros anos do grupo. Ou talvez nem isso.

Obra mais curta de toda a discografia da banda, o quarto álbum de estúdio deixa de lado os experimentos de Hidden World (2006) e as melodias de The Chemistry of Common Life (2008) para mergulhar nas pequenas imposições que o hardcore sustenta há décadas. Sim, a voz de Abraham ainda se permite fragmentar estruturalmente e provar de pequenas adaptações rítmicas, mas a base e os versos que acompanham o vocalista traduzem apenas o comum, entregando vez ou outra instantes mais “corajosos”.

Adaptação da estética de qualquer banda veterana ou iniciante do gênero, Glass Boys usa das pequenas repetições – como o andamento rápido dos acordes, vozes guturais e batidas secas – de forma a instituir um fluxo autoral. Falta um tema ou proposta específica ao coletivo canadense, que trouxe nos conceitos – líricos ou instrumentais – dos três registros passados um ponto de originalidade explícita. Das guitarras de Mike Haliechuk aos versos emanados pelo vocalista, hoje o Fucked Up se sustenta apenas como um grupo aos moldes de qualquer outro.

Por mais que a explosão de Paper The House ou os ruídos ascendentes da faixa-título igualem a energia e o esforço do registro passado – principalmente na segunda metade -, nada do que alimenta o novo álbum ecoa como um produto original, típico do grupo. Mesmo dentro da cena em que habita, Glass Boys se revela como um disco superficial, penando para superar outras obras do gênero. Onde está a sobreposição de instrumentos que guiou The Other Shoe? As melodias dinâmicas de Queen Of Heart? Nada do disco anterior merece sobreviver?

De fato, os rápidos instantes de transformação em Glass Boys se escondem nas pequenos arranjos “pop” da obra. Enquanto Sun Glass ecoa como um típico material da cena californiana atual, Paper The House abandona os excessos para resgatar a essência do Hardcore, ainda nos anos 1980. Minutos de respiro criativo ou apenas referência? Falta originalidade ou um mínimo ponto criativo que possa movimentar o álbum. Nada que qualquer outro artista do gênero não dê conta de sustentar, talvez, de forma ainda mais desafiadora e bem sucedida.

Curioso pensar que há poucos meses o grupo foi capaz de presentear o ouvinte com a extensa Year Of The Dragon. Com pouco mais de 18 minutos de duração, a faixa – um dos últimos singles da série Zodiac Series – ecoa muito mais transformação e invento do que toda a extensão do novo disco. Logo, nada mais natural do que pensar que o “verdadeiro” Fucked Up ainda vive. Resta apenas saber aonde ele se esconde.

 

Fucked Up

Glass Boys (2014, Matador)

Nota: 6.0
Para quem gosta de: Titus Andronicus, OFF! e Pissed Jeans
Ouça: Paper The House e Sun Glass

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.