Disco: “Gloom”, Gloom

/ Por: Cleber Facchi 09/08/2011

Gloom
Brazilian/Indie Rock/Ska
http://www.gloom.tnb.art.br/

 

Por:Cleber Facchi

Lá se vão exatos dez anos desde que Bloco do Eu Sozinho, segundo disco do quarteto carioca Los Hermanos chegava ao público, quebrando qualquer tipo de expectativa de alguém que buscasse por uma continuidade do hit Anna Júlia e mudando de vez os rumos da música nacional naquele período. Embora fracasso de vendas em sua época de lançamento, o disco rapidamente se transformou em um dos marcos do rock alternativo nacional, influenciando um número surpreendente de artistas que a partir daquele momento partiriam em busca de uma sonoridade similar ao que fora retratado através do memorável registro.

Mesmo passados dez anos, o referencial álbum ainda emana suas influências sobre grande parte do que é produzido em solo nacional, algo muito perceptível quando nos deparamos com a homônima estreia do grupo goiano Gloom, que entre transições pelo indie rock e Ska trazem em sua bagagem muito do que Rodrigo Amarante e Marcelo Camelo delineariam há uma década. Contudo, para além de soar como uma mera cópia ou uma redundante sequência do que fora apresentado pela banda carioca, o grupo vindo de Goiânia traz distinção e novidade em sua estreia.

Nada do já desgastado e morno cruzamento entre rock e a MPB que tanto delimitou o rock nacional da década passada, em sua dúzia de faixas a banda deixa escorrer uma mesma fluidez que toma conta da música pop tradicional, porém longe de soar como algo tosco ou instrumentalmente banal. O potencial que inunda cada uma das canções faz com que faixas aos moldes de Tic Tac (que de alguma forma remete ao Pixies do álbum Bossanova) ou Balão sejam capazes de dialogar tanto com aqueles que buscam por algo mais “conceitual”, quanto com quem espera por composições tomadas de leveza e despretensão.

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Por mais que os momentos cantados em inglês pareçam destoar da boa continuidade que assume as rédeas do álbum, torna-se difícil não se deixar atingir pelo ritmo animado de Bill On Monday e seu excepcional naipe de metais (na verdade um duo de metais). Entretanto, a beleza do álbum está em seus enunciados expostos em língua pátria, uma verdadeira porta de entrada para um universo de referências e influências distintas. Enquanto Dois Acordes puxa o disco para próximo do Los Hermanos do disco Ventura, Parafina remete ao Paralamas do Sucesso no auge da década de 80, um oposto de Discurso, que lembra em alguns momentos o Pato Fu pré-Isopor, uma soma de tendências que apenas reforçam a multiplicidade do grupo goiano.

Além da pluralidade rítmica e instrumental, em sua estreia o Gloom vai em busca de algumas experiências inusitadas, como ao elaborar uma divertida versão para Do You Realize?, uma das composições mais populares do grupo norte-americano The Flaming Lips, que pelas mãos do grupo se transforma em Você Percebeu?. Para tornar a composição ainda mais interessante os vocais de André Gonzales do Móveis Coloniais de Acaju (que também participa da faixa Menina) se encontram com o de Fabricio Nobre (MQN), transformando o clássico do grupo de Oklahoma em um ska pop e entusiasmado.

Dosando seus momentos dolorosos e mantendo o ritmo de forma sempre ensolarada, a autointitulada estreia do Gloom se posiciona muito acima da média quando comparado a  boa parte dos grupos que se lançaram nos últimos anos e buscam por uma sonoridade similar. Falta ao grupo fechar algumas lacunas do trabalho e deixar de lado algumas composições que possam prejudicar o bom rendimento do disco (Keep Away mesmo no fechamento do álbum não precisava estar ali), entretanto, em meio a acordes melódicos e letras que emocionam ou te fazem celebrar, o Gloom faz de seu debut um dos registros nacionais que sem dúvidas merecem ser ouvidos.

 

Gloom (2011, Independente)

 

Nota: 7.7
Para quem gosta de: Móveis Coloniais de Acaju, Los Hermanos e Canastra
Ouça: Tic-Tac e Dois Acordes

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.