Disco: “Golden Hands”, Clap Rules

/ Por: Cleber Facchi 16/08/2011

Clap Rules
Electronic/Nu-Disco/Experimental
http://www.claprules.com/

 

Por: Cleber Facchi

Muito embora grande parte dos esforços relacionados ao “movimento” Nu-Disco estejam relacionados em rever grande parte do que foi produzido na cena eletrônica de Chicago na década de 1980 e princípios dos anos 90, nem todos os propagadores deste estilo parecem interessados em beber da mesma fonte. É afastando os olhares do que foi produzido em solo americano e focando na produção eletrônica européia, que o trio italiano Clap Rules concentra todas as bases para a produção de seu primeiro disco, um trabalho que inevitavelmente está ligado aos sons produzidos do outro lado do Atlântico, mas que se atenta em buscar por novos rumos e temáticas.

Por mais que as mesmas referências que delimitam os trabalhos de artistas como Tiger & Woods, Azari & III e Tensnake estejam presentes em todos os cantos de Golden Hands (2011, Bear Funk), os rumos dados ao registro são outros, com a tríade formada por Fabrizio Mammarella, Andrea Gabriele e Max Leggieri, explorando diversas capitais da música eletrônica em solo europeu. Da explosão do movimento rave na Manchester da década de 1990, ao famigerado cenário de Ibiza ou mesmo toda a expansão da Italo Disco desde o fim dos anos 80, um trabalho que se sustenta em cima de bases sólidas, capaz de soar nostálgico e inédito na mesma medida.

É bem provável que quem já tiver apreciado a estreia do  Azari & III ou outros trabalhos do gênero que concentram seus esforços em uma sonoridade mais comercial encontre certa dificuldade em desbravar o som do trio italiano. Embora trafegue por um tipo de condução aprazível e quase exclusivamente voltado para as pistas, o álbum em nenhum momento centraliza suas fórmulas em algo fácil ou essencialmente radiofônico. Muito do que conduz o disco vem de batidas mais esparsas e um conjunto de sons levemente hipnóticos, o que traduz a estreia do Clap Rules em um registro muito mais atmosférico e conceitual, do que dançante e comercial em si.

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Enquanto a dupla canadense faz de faixas como Manic, Lost In Time e Reckless (With Your Love), composições que mesmo experimentais são capazes de beber da mesma fonte da música pop, a sonoridade escolhida pelo Clap Rules é completamente outra, com criações bem mais extensas e tomadas de loopings cacofônicos. Os vocais, quando aparecem se revelam de forma sempre fragmentada, com trechos de voz inseridos esporadicamente, como se fossem picotados e espalhados de forma aleatória ao longo das canções.

A maneira não convencional como a House e a Dance Music são retratadas dentro do disco, em alguns momentos aproximam Golden Hands dos primeiros registros do LCD Soundsystem, principalmente durante a execução das faixas mais extensas e ausentes de vocais. Pericoloso, quarta música do álbum mostra exatamente isso, um tipo de composição que lentamente parece derreter em sua reprodução, como se os beats e programações inseridas na canção fossem literalmente derretendo (em alguns momentos ela lembra muito Someone Great do disco Sound Of Silver de 2007).

Mesmo que de maneira predominante o disco cerque seus esforços em torno de uma revisão da House Music, certas doses de experimentação musical, como o que é apresentado na faixa Azzardo mostram a pavimentação de outros caminhos dentro do álbum, com o trio buscando por um som puramente experimental e quase voltado ao hip-hop instrumental. É possível até encontrar algumas referências ao trabalho do Kraftwerk em alguns momentos (Aria Tre mostra bem isso), o que transforma Golden Hands em um disco inusitado e que parece surpreender o ouvinte em cada nova composição.

 

Golden Hands (2011, Bear Funk)

 

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Tiger & Woods, Azari & III e LCD Soundsystem
Ouça: Pericoloso e Approccio

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.