Disco: “Good Don’t Sleep”, Egyptian Hip Hop

/ Por: Cleber Facchi 31/10/2012

Egyptian Hip Hop
British/Indie Rock/Alternative
https://www.facebook.com/egyptianhiphop

Por: Fernanda Blammer

Quando surgiu há quase quatro anos, o quarteto Egyptian Hip Hop tinha tudo para se transformar em mais uma coqueluche britânica. “Patrocinada” pela NME e outros grandes nomes da mídia musical inglesa, bem conceituada e dona de bons hits – caso raro no autoalimentado e redundante cenário inglês -, a banda parecia seguir por um caminho diferente da infinidade de grupos pré-fabricados que diariamente são despejados pela internet. Brincando com sintetizadores e guitarras fragmentadas em percursos não óbvios, o quarteto de Manchester parecia olhar para uma direção oposta da seguida por Bombay Bicycle Club, The Maccabees e demais grupos que parecem apenas trocar de nome, fazendo sempre o exato mesmo show.

Encontrando uma medida mais doce e até comercial do que o Foals parecia inclinado a desenvolver, a banda, diferente do que naturalmente aconteceria dentro do panorama inglês resolveu se calar. Depois de um EP parcialmente aclamado em 2010, nenhuma outra novidade foi apresentada ao longo dos meses. Logo, com o possível hype ficando para trás e a possibilidade de desenvolver um disco sem grandes pressões e naturais responsabilidades, o grupo apresenta agora o definitivo trabalho de estreia: Good Don’t Sleep (2012, R&S). Ainda próximo dos mesmos realces sonoros de outrora, o álbum deve revelar se o período de silenciamento trouxe benefício e maior identidade ao grupo, ou se a fuga dos holofotes deve sepultar o trabalho do quarteto já não mais tão novato.

Com um propósito menos colorido do que aquele que pintava as antigas canções da banda, assim que inicia ao som da climática Tobago, todas as transformações em torno do trabalho do grupo se tornam visíveis. Antes essenciais, os sintetizadores agora ocupam um espaço muito mais delicado no interior da obra, que encontra um percurso muito mais opaco do que o definido no decorrer do último disco do Foals, Total Life Forever (2010). A proposta de encaminhamentos sombrios – alertada logo na capa soturna do álbum – se relaciona de maneira paralela com o natural amadurecimento da banda, não apenas em idade, mas em conceitos e experiência, visto que temos no decorrer do disco uma concepção totalmente contraditória ao que flutuava em hits como Rad Pitt.

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Ainda que íntimo de muito o que se materializa na música inglesa atual, a maneira como o álbum se desenvolve puxa o ouvinte para um cenário de sonorizações distintas. Em Alalon fica muito clara essa predisposição, com a banda descendo até o subterrâneo obscuro que coordena os rumos do Lo-Fi norte-americano, emparelhando de maneira curiosa com as produções de Unknown Mortal Orchestra, Secret Cities e até com o Twin Sister – em uma versão menos pop, claro. Mais do que isso, temos em músicas como Yoro Diallo um mergulho sujo na década de 1980, raspando de leve em uma versão menos tropical de Toro Y Moi, ou um Cults sem os anseios melódicos e os vocais femininos de pura sutileza.

Indisponível de composições comerciais, com Good Don’t Sleep a banda se aproxima de um som intencionalmente mergulhado em razões introspectivas, rompendo mais uma vez com a lógica da recente safra britânica. Por mais que a sonoridade experimental de faixas como Strange Vale e SYH pareçam fazer de tudo para distanciar o público, na mesma medida em que afasta o ouvinte, os realces sombrios curiosamente fisgam o espectador. Dentro dessa medida, o ouvinte encontrará pelo álbum uma completa quebra em relação ao que o Alt-J desenvolve dentro do prepotente e artificialmente inventivo An Awesome Wave, afinal, o que é a estreia do EHH se não um álbum de propostas criativas sem cair nos mesmos percursos pseudo-intelectuais do grupo londrino de “art rock”?

Bastante similar ao que desenvolve o Wild Beasts no decorrer do álbum Two Dancers (2009), por mais distinto e curioso que seja o trabalho, diversas pontas soltas e a ausência de composições mais volumosas impedem que o grupo consiga se firmar de forma consistente, algo que deve ser melhor aproveitado em um próximo disco. É como se ao levar tempo demais longe do público, trabalhando nas temáticas do presente álbum, o grupo acabasse deixando para trás uma série de elementos essenciais, contribuindo para a formação de um bom disco, apenas um pouco atrasado.

Egyptian

Good Don’t Sleep (2012, R&S)

Nota: 7.0
Para quem gosta de: Foals, Late Of The Pier e Wild Beasts
Ouça: Yoro Diallo, Tobago e Alalon

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.