Disco: “Goodbye Bread”, Ty Segall

/ Por: Cleber Facchi 02/06/2011

Ty Segall
Lo-Fi/Garage Rock/Punk
http://www.myspace.com/tysegall

Por: Cleber Facchi

Esqueçam Black Lips, Wavves ou os álbuns do Ariel Pink’s, afinal, o grande rei do rock lo-fi atualmente é Ty Segall. Desde 2008 em uma produção ininterrupta de discos (isso sem mencionar as incontáveis participações em coletâneas, splits, EPs, discos ao vivo e singles por aí), o músico de São Francisco, California acaba de lançar mais uma verdadeira pérola do rock de garagem, Goodbye Bread (2011), um trabalho em que guitarras ecoando acordes sujos e uma bateria anárquica regem a lógica de todas as canções. Abra bem seus ouvidos e deixe as frequências do californiano te carregar.

Talvez o que mais impressione dentro do som proposto pelo californiano seja a ausência de erros em suas produções. Desde que seu autointitulado primeiro disco veio à tona em 2008, que o músico vem se revezando em uma crescente de álbuns cada vez melhores, em que a gritaria e as rajadas de guitarras catastróficas atravessam décadas de música em busca da inspiração necessária para que o cantor destile algo unicamente seu. Com o quarto álbum não poderia ser diferente, com Segall tirando o pé do acelerador e investindo intensamente no uso de bons solos, além das tradicionais avalanches de distorção.

Se em Melted, trabalho lançado no ano passado, o músico investia no garage rock dos anos 80, além de ressaltar as influências da década de 1990 em sua musicalidade, com o presente álbum Ty se volta aos sons dos anos 50 e 60, aplicando com propriedade algumas nuances do blues dentro do disco, algo parcialmente inédito em seus trabalhos. Enquanto boa parte das bandas californianas andam construindo seus discos inspirados nas tendências da surf music, Segall se apoia no rock, única e simplesmente para mais uma vez nos impressionar.

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Não se engane pelo som morno da faixa de abertura, a mesma que nomeia o disco, afinal, os acordes suaves, com o músico expondo sua faceta mais preguiçosa vale apenas como um aperitivo para o que o disco irá apresentar. Ainda na mesma canção, o californiano já dá alguns apontamentos do que teremos pela frente, nos impressionando com um bem direcionado solo e os tradicionais efeitos dignos de sua obra. Prova da eficácia do guitarrista vem logo na sequência, com a curtinha, porém suficiente California Commercial, que com pouco mais de um minuto encanta por seu direcionamento enérgico.

Conforme se desenvolve Goodbye Bread, cresce a qualidade do álbum. Em My Head Explodes, as preferências ao rock clássico ficam suavemente afastadas, com o músico construindo uma faixa digna de emocionar Robert Pollard, soando como um registro genuíno do indie rock dos anos 90. Já em The Floor a volta no tempo, com Segall produzindo algo que parece ter viajado pelo tempo através de uma fita K-7 empoeirada. Mas talvez nenhuma faixa surpreenda tanto quanto a dupla Where Your Mind Goes e I Am With You, perpassando diversas épocas de música e concentrando tudo em algo ruidoso, agressivo e difícil de se esquivar.

Mesmo propondo um som mais pacato em seu novo álbum (comparado com os discos anteriores  Goodbye Bread é um trabalho “doce”), Ty Segall acerta em manter o mesmo caráter sujo e anárquico de seus anteriores registros, proporcionando um LP que embora deva soar estranho aos leigos irá sem dúvidas agradar seus seguidores. O solo de guitarra que pontua a última faixa, Fine, com o próprio músico se despedindo dos ouvintes, serve apenas para trazer mais destaque à obra do californiano, com Segall se mantendo como rei absoluto no estilo que desbrava.

Goodbye Bread (2011)

Nota: 7.6
Para quem gosta de: Black Lips, Wavves e The Strange Boys
Ouça: I Am With You

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.