Disco: “Goon”, Tobias Jesso Jr.

/ Por: Cleber Facchi 27/03/2015

Tobias Jesso Jr.
Indie/Alternative/Singer-Songwriter
http://www.tobiasjessojr.com/

 

Emoção“, “tristeza“, “sofrimento“. Palavras que invadem a mente do ouvinte tão logo a enxurrada sentimental de Goon (2015, True Panther) tem início em Can’t Stop Thinking About You. Harmonias tímidas de piano, uso controlado, quase imperceptível, de temas percussivos; vocal limpo, esculpido pela angústia do cantor; conceitos, personagens e pequenas confissões redundantes, há décadas desgastadas em diferentes campos da música. Os mesmos versos tristes de amor e separação, o mesmo coração partido, porém, retratado de forma honesta e estranhamente acolhedora por Tobias Jesso Jr.

Mary Ann, eu perdi você em um sonho / Em seguida, o sonho se tornou realidade“. Os versos que inauguram o primeiro registro solo do músico canadense apontam a direção triste que define o restante da obra. São quase 50 minutos em que tormentos pessoais, personagens (femininos) e incontáveis delírios alcoólicos brincam com a percepção amargurada de Jesso Jr, em poucos minutos, uma representação compatível de qualquer ouvinte sofredor. Ainda que vocais “sorridentes” tentem sobreviver ao longo do trabalho, é a tristeza que sustenta e ocupa as brechas de cada canção.

Em um ambiente soturno, o mesmo de Randy Newman no começo da década de 1970, talvez Paul McCartney nos primeiros anos pós-Beatles, Jesso Jr. caminha pelo passado de maneira inevitável. Não se trata de um disco nostálgico, tampouco referencial ou plágio, mas uma obra que dialoga, absorve e partilha dos mesmos sentimentos de outros gigantes da melancolia. É fácil encontrar Harry Nilsson, tropeçar na angústia de Tom Waits e até mesmo artistas recentes; românticos como Cass McCombs e Kurt Ville ou, em menor escala, Phosphorescent e Justin Vernon.

Por vezes sufocado, talvez oculto sob a imensa colcha de retalhos musicais que servem de estrutura para o álbum, Jesso Jr. encontra na “simplicidade” um mecanismo de imposição da própria identidade. Hollywood, Without You, Can We Still Be Friends ou Just a Dream; não importa o pronto do disco em que você estaciona: dos arranjos tristes aos versos confessionais, possíveis bloqueios são logo derrubados. Em Goon, o diálogo com o ouvinte é imediato, natural. Uma armadilha nítida, esquiva da desgastada soma entre “amor e dor”, porém, hipnótica pelo efeito de confissões como “Eu não consigo parar de pensar em você” ou “Porque você não pode me amar?“.

Mesmo protegido pelo caráter intimista e particular exposição retratada nos versos, Goon está longe de ser interpretado como fruto da individualidade de Jesso Jr. Basta uma audição atenta para notar a presença JR White, um dos produtores do álbum e principal colaborador do músico canadense. Em um exercício (talvez) provocativo, White, ex-integrante do Girls, insiste replicar conceitos testados no ainda recente Father, Son, Holy Ghost (2011), marca explícito na similaridade dos arranjos e vozes de Hollywood e a amarga Vomit. Mesmo o timbre de Jesso Jr. parece moldado de forma a imitar Christopher Owens, antigo parceiro e hoje “inimigo” do produtor norte-americano.

Destilado, partindo de uma interferência contínua, o sofrimento de Jesso Jr. passa ainda pelas mãos de outros produtores. Além do conterrâneo John Collins (The New Pornographers), Patrick Carney (The Black Keys) e Ariel Rechtshaid (Haim, Vampire Weekend) atuaram em estúdio ao lado do cantor – hoje residente na cidade de Los Angeles. A julgar pelo isolamento excessivo em canções antigas do canadense – caso de True Love -, a formação de um time assertivo de colaboradores. Artistas também marcados pela produção de obras amarguradas, intimistas; catapulta para os sentimentos de Jesso Jr. e a mão firme que arrasta cantor e ouvinte cada vez mais para o fundo do poço.

 

Goon (2015, True Panther)

Nota: 9.0
Para quem gosta de: Girls, Natalie Prass e Cass McCombs
Ouça: Can’t Stop Thinking About You, Hollywood e Without You

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.