Disco: “Grace/Confusion”, Memory Tapes

/ Por: Cleber Facchi 30/11/2012

Memory Tapes
Chillwave/Electronic/Indie
https://www.facebook.com/memorytapes

Por: Cleber Facchi

http://www.windishagency.com/assets/12176/MemoryTapes_1.jpeg

Existem duas diferentes atuações de Dayve Hawk à frente do Memory Tapes. A primeira teve início em 2008, quando ainda se apresentava sob o nome de Memory Cassette estabelecia um misto entre a sonoridade caseira de velhas fitas VHS e a eletrônica cuidadosa da cena Balearic. Uma proposta necessária para o que o produtor viria a aprimorar logo no ano seguinte, quando protegido pela alcunha de Memory Tapes apresentou o nostálgico Seek Magic. Rápido – são apenas oito faixas – o disco contribuiu para alicerçar o que seria compreendido como a famigerada Chillwave, cenário/movimento acompanhado por Toro Y Moi, Neon Indian e demais amantes da eletrônica Lo-Fi.

Ainda imerso na mesma sonoridade caseira, porém incorporando um caráter menos sintético e até se apresentando com uma banda, em 2011 Hawk trouxe a público Player Piano, disco que mesmo dividindo opiniões entre os ouvintes e crítica proporcionou novidade à carreira do produtor. Agora próximo das guitarras e ainda assim atento aos encaixes eletrônicos do álbum de estreia, o norte-americano conseguiu revelar uma nova proposta ao Memory Tapes, projeto que tem no lançamento do recente Grace/Confusion (2012, Carpark) um encontro exato de todas as referências particulares alcançadas pelo músico nos últimos anos.

Como o título já aponta, o terceiro registro de Hawk se divide entre instantes dicotômicos de graça e confusão, proposta bem aplicada tanto na sonoridade – mezzo orgânica, mezzo eletrônica – como nos versos espalhados em cima dessa proposta dupla. Mesmo dotado de um número menor de faixas – seis no total -, o novo álbum é o trabalho mais extenso já lançado por Hawk, que contrário ao resultado expresso no último disco investe em composições amplas, ultrapassando facilmente os oito minutos de duração. A medida, embora confusa aos antigos ouvintes, surge como uma estratégia essencial, possibilitando que o produtor dissolva bem estes dois fluxos instrumentais em um mesmo ponto.

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=whf4ggxN-ZA?rol=0]

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=fWFN1xBxoIo?rol=0]

Além de aprimorar uma série de conceitos fundamentais já selecionados nos dois discos anteriores, em Grace/Confusion a preferência de Hawk pela psicodelia é ampliada de maneira essencial. Por vezes lembrando Ariel Pink (pré-Before Today) ou Tame Impala (nos momentos mais próximos do Dream Pop em Lonerism), o produtor utiliza da soma de teclados e vocais em eco como um complemento para o que marca a construção do disco, estabelecendo logo na faixa de abertura, Neighborhood Watch, muito do que reverbera no restante do álbum. A própria extensão ampliada das faixas possibilita isso, marca vista em Sheila e na pegajosa Thru the Field.

Ainda que a necessidade do músico esteja concentrada na proposta de diluir tais experiências dentro de um único líquido instrumental, em alguns momentos do álbum é possível distinguir características fundamentais de cada um dos trabalhos anteriores. Correspondendo de forma exata ao que fora testado no primeiro disco, Safety amplia o lado eletrônico do disco (a confusão), costurando uma trama de sintetizadores e batidas que se estendem inexatas até a faixa seguinte, Let Me Be. Já a imensa Sheila corresponde ao outro resultado, quase uma continuação (a graça) de boa parte do som proposto em Player Piano.

Exato meio termo entre um registro e outro, Grace/Confusion causa uma sensação curiosa ao ser apreciado pela primeira vez. Ao mesmo tempo em que funciona como uma continuação quase exata de Seek Magic (ampliando os resíduos eletrônicos do álbum), “antecipa” de forma elaborada o que talvez tenha funcionado de forma confusa dentro de Player Piano – registro que parece melhor passada a audição do presente disco. Lisérgico, mágico e inventivo, Dayve Hawk prossegue com a boa formação concedida aos discos anteriores, aprimorando velhas fórmulas e naturalmente alcançando resultados ainda mais satisfatórios.

http://i.imgur.com/R9Zby.jpg

Grace/Confusion (2012, Carpark)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Neon Indian, Ariel Pink’s Haunted Graffiti e Toro Y Moi
Ouça: Neighborhood Watch, Sheila e Thru the Field

[soundcloud url=”http://api.soundcloud.com/tracks/66531382″ iframe=”true” /]

[soundcloud url=”http://api.soundcloud.com/tracks/63037011″ iframe=”true” /]

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.