Disco: “Green Language”, Rustie

/ Por: Cleber Facchi 01/09/2014

Rustie
Electronic/Wonky/Grime
https://www.facebook.com/rustie666

Por: Cleber Facchi

De todos os aspectos ressaltados no trabalho de Rustie em Glass Swords (2011), o mais interessante deles se concentra na imensa carga de referências dissolvidas pela obra. Da homenagem ao jogo The Legend of Zelda: Ocarina of Time em Hover Trap, passando pelos sintetizadores em Flash Back – típicos do Van Halen -, a estreia do artista escocês é mais do que uma coleção de gêneros sobrepostos – Dubstep, Hip-Hop, R&B, Pop, Techno e até Rock Progressivo -, mas uma obra a ser desvendada dentro e principalmente fora das pistas.

Com a apresentação de faixas como Raptor e Attak nos últimos meses, todas as evidências indicavam que Green Language (2014, Warp) seria conduzido sob o mesmo refinamento do antecessor. Batidas intensas, harmonias detalhadas de sintetizadores e até o uso coeso de vocais – assumidos pelo amigo/colaborador Danny Brown. Uma sensação de que os elementos e temas entregues no registro de estreia seriam não apenas expandidos, mas acrescidos por toda uma nova carga de experiências. Doce ilusão.

Entre músicas que refletem o completo domínio em relação à própria obra, Rustie tropeça ao investir em canções arrastadas (Tempest), redundantes (Lets Spiral) e capazes apenas de refletir a imagem de um artista “cansado”. A própria utilização de duas faixas climáticas e completamente similares – Workship e A Glimpse – logo na abertura do álbum resume a ausência de ritmo que define todo o trabalho. Sim, Green Language, como indicado durante o lançamento das primeiras músicas, é um trabalho marcado por algumas boas composições, porém, desorientado.

É compreensível que a grandeza de Glass Swords venha da completa dedicação de Rustie em testar ritmos, arranjos, samples e batidas ao longo de três anos de trabalho. Um tempo de produção quase integral, oposto da recente fase do produtor, dividido entre shows, remixes e projetos desenvolvidos ao lado de outros artistas. Entretanto, nada justifica a repetição de temas que ocupa grande parte do novo álbum. Mesmo a presença dos rappers D Double E (Up Down) e Redinho (Lost) ecoa de forma superficial e desnecessária, criando ruído em bases instrumentais possivelmente detalhadas – caso de Lost.

Abastecido em grande parte por faixas climáticas, Green Language assume nessa transformação o abandono de um dos elementos mais importantes do disco passado: as constantes quebras de ritmo. Com exceção de Raptor e Velcro, poucas canções do novo álbum parecem igualar o mesmo detalhamento e euforia solucionada em Surph, After Light e demais faixas de Glass Swords. Grande parte dos elementos são organizados de forma morna e previsível, tornando o presente álbum uma obra quase “esquecível”. Não é difícil se desligar entre as canções, deixando de perceber a transição entre uma faixa e outra, como se tudo não passasse de uma constante e desinteressante reciclagem de fórmulas.

Evidente como falta ao disco o mesmo recheio referencial e esmero do antecessor. São poucos os instantes em que Rustie se concentra em desenvolver texturas apuradas ou faixas que escapem do ciclo preguiçoso de batidas/harmonias formatadas. Mesmo a Essential Mix apresentada pela BBC em 2012 reflete um cuidado muito maior por parte do artista, o que faz de Green Language um trabalho naturalmente grandioso em suas formas e batidas grandiosas, porém, vazio.

Green Language (2014, Warp)

Nota: 6.5
Para quem gosta de: Hudson Mohawke, S-Type e Lone
Ouça: Raptor, Velcro e Attak

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.