Disco: “Guilt Trips”, Ryan Hemsworth

/ Por: Cleber Facchi 22/10/2013

Ryan Hemsworth
Electronic/Hip-Hop/R&B
http://www.ryanhemsworth.com/

Por: Cleber Facchi

Ryan Hemsworth

Ryan Hemsworth parece longe de trilhar um caminho estável dentro da produção autoral que vem desenvolvendo. Distante dos inventos adocicados e sons impulsionados por curiosos entalhes pueris – resultado exposto há alguns meses com Still Awake EP -, o produtor canadense encontra em Guilt Trips (2013, Last Gang) uma quebra conceitual e ao mesmo tempo um regresso criativo aos primeiros inventos. Tendo como base a manipulação suavizada do Hip-Hop e a composição instrumental dos vocais, cada instante da obra se manifesta como uma construção de limites isolados, autorizando ao artista a possibilidade de brincar com diferentes tendências, sem necessariamente perder a direção.

Quem acompanha o trabalho de Hemsworth desde o último ano talvez encontre no novo álbum uma fuga dos remixes detalhistas e composições sempre versáteis assinadas pelo artista. Trata-se de uma obra branda, ausente de grandes transformações, mas ainda assim, um exercício atento de seu criador. Mesmo que desenvolva cada faixa individualmente, cercando e finalizando aspectos específicos em um curto espaço de tempo, o produtor não se desprende de um sentido de linearidade e aproximação, fazendo com que da abertura, ao som de Small + Lost, até o fechamento, em Day / Night / Sleep System, diversas bases alimentem uma obra que lentamente ecoa completude.

Observado com atenção, o presente disco nada mais é do que um imenso bloco instrumental, apenas fragmentado em pedaços menores e sutis. Da maneira como os vocais são aproveitados, ao manuseio ambiental dos sintetizadores, cada música parece ligada de forma exata na canção seguinte, resultando em uma movimentação dinâmica dos elementos, ainda que de forma tímida e essencialmente ponderada. Completo oposto ao resultado escolhido para Still Awake, o registro caminha a passos lentos, trazendo na busca por batidas densas e construções instrumentais comportadas uma sequência um pouco mais extensa do mesmo cardápio de sons testados no EP Last Words, de 2012.

De forma bastante nítida, Guilt Trips é uma obra de Hemsworth para ele mesmo. Parte substancial do registro parece abastecida por interferências musicais que habitam o cotidiano do produtor há bastante tempo, sendo que boa parte delas referências parece fluir para além dos próprios limites musicais do artista. Ainda que a essência da década de 1990 reverbere na forma como o R&B e outros gêneros típicos do período parecem ressuscitados (vide o bom desempenho em músicas como One for Me), por todo o álbum é possível absorver bases instrumentais típicas de videogames da época (principalmente clássicos da Nintendo), desenhos e centenas de outros traços da cultura pop.

Mesmo quando abre espaço para a chegada de novos colaboradores – como o rapper Lofty305 em Against a Wall, Baths em Still Cold ou mesmo a cantora Kitty na música de encerramento -, Hemsworth nunca perde o domínio autêntico sobre a obra. Da forma como os sintetizadores são posicionados, ao exercício ponderado dos versos, tudo parece fluir como uma representação do cotidiano melancólico do artista, uma trilha sonora egoísta para a série de imagens Alone In Hotel que o canadense apresenta semanalmente no próprio Facebook.

Com a sensação clara de que foi construído na estrada, durante os pequenos intervalos do produtor e em diferentes quartos de Hotel, Guilt Trips se revela como uma obra de essência naturalmente limitada. Sempre que o disco começa a crescer em demasia, Hemsworth reverte esse resultado, limitando o álbum em uma coleção de sons e bases instrumentais movidos por um mesmo princípio temático ponderado. Ainda que falte ao disco o mesmo conjunto de vozes, samples e interferências que tanto conduziram a atuação do artista até pouco tempo, o manuseio preciso do canadense em aprisionar o ouvinte dentro de pequenos loops se sustenta em totalidade, prova de que mesmo entre tropeços, o produtor contorna o erro e encontra solução.

 

Guilty Trips

Guilt Trips (2013, Last Gang)

Nota: 7.8
Para quem gosta de: Jerome LOL, Baths e Shlohmo
Ouça: Against Wall e Still Cold

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.