Disco: “Habits & Contradictions”, Schoolboy Q

/ Por: Cleber Facchi 19/03/2012

Schoolboy Q
Hip-Hop/Rap/Alternative
http://www.myspace.com/schoolboyq

Por: Cleber Facchi

Schoolboy Q

Paradigmas foram feitos para serem quebrados e logo em 2011 centenas deles foram completamente desintegrados dentro do cenário hip-hop. Quem esperava por um ano em que a parceria entre Jay-Z e Kanye West prevalecesse como o projeto mais rico e inventivo da temporada – o que ocorreu até certo ponto -, acabou se deparando com uma abrangência de novos registros e possibilidades dentro da produção musical daquele momento. Trabalhos que perverteram a temática luxuosa do gênero, deram novo sentido ao uso dos beats, samples e bases, além trançar ironia e sujeira instrumental dentro de um mesmo bloco sonoro.

Ao mesmo tempo em que Tyler The Creator, A$ap Rocky, Death Grips, Clams Casino e tantos outros pareciam inclinados a se transformar nos principais agitadores dessa “nova vertente” do rap norte-americano, o reduto de artistas apoiados em fórmulas da velha guarda do Hip-Hop cresceu substancialmente. Big K.R.I.T., Kendrick Lamar, Danny Brown são alguns dos personagens que encontraram em velhas referências do rap, a formula para a organização de influentes projetos. Álbuns que mesmo apoiados em uma temática sonora “convencional”, romperam com os limites do óbvio e inovaram quaisquer velharias há tempos presentes no meio.

Partindo desse segundo grupo, Quincy Matthew Hanley ou simplesmente Schoolboy Q (como vem se apresentando desde idos de 2008), chega ao segundo disco oficial apoiado na temática comercial do rap típica dos anos 1990 – embora se relacionando intensamente com tendências e integrantes dessa nova fase da produção americana. Espécie de continuação aprimorada do que Lamar apresentou com Section.80no último ano, Habits & Contradictions (2012, Top Dawg Entertainment) flerta integralmente com a música presente no atual momento, ao mesmo tempo em que sustenta por completo na racionalidade do passado.

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Situado em algum lugar entre Aquemini(1998) e Stankonia(2000) do duo norte-americano OutKast, Hanley promove constantemente o uso de palavras e sentensas harmônicas, frases construídas para dançar nos ouvidos do espectador enquanto as batidas se desenvolvem suavemente ao fundo. Mesmo que em diversos momentos do trabalho o rapper se encaminhe para a produção de um registro ameno (principalmente nos instantes finais do disco), o conglomerado de hits e faixas acessíveis ao grande público surpreende, com o rapper passeando de forma brilhante por faixas como Hands on the WheelNigHtmare on Figg St.Grooveline Pt. 1.

Além do colosso de versos estrategicamente bem posicionados no interior da obra, Habits & Contradictionscresce significativamente por conta do uso assertivo de samples. Por todo o trabalhoHanley desenvolve uma rica colagem de referências vindas dos mais distantes cantos da música. Enquanto em Raymond 1969 Qversa em cima das bases do clássicoCowboys do Portishead, em Hands On The Wheel o rapper (acompanhado do queridinho A$ap Rocky) recorta trechos da versão feita pela norte-americana Lissie para Pursuit of Happiness, do também rapper Kid Cudi. Sobra ainda tempo para que samples de Menomena, Genesis ou mesmo peças do recente trabalho da dupla West e Jay-Z circulem pelo álbum.

Brincando com o tom comercial, mas sem deixar que isso corrompa a boa condução e o ineditismo do disco, Q desenvolve um dos grandes achados do Hip-Hop – por enquanto, o melhor registro do gênero lançado em 2012. Aliado a memoráveis representantes do rap norte-americano como Kendrick Lamar e Curren$y, o rapper converte em acertos o que talvez pudesse soar batido ou já desgastado dentro do meio ao qual está inserido, prova de que muitas vezes não é preciso se afastar muito de uma fórmula para que ela se transforme em acerto, basta apenas saber como explorá-la.

Schoolboy Q

Habits & Contradictions (2012, Top Dawg Entertainment)

Nota: 8.8
Para quem gosta de: Kendrick Lamar, Jay-Z e Ab-Soul
Ouça: Hands On The Wheel, My Homie e Raymond 1969

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.