Disco: “Halcyon”, Ellie Goulding

/ Por: Cleber Facchi 05/10/2012

Ellie Goulding
Electronic/Pop/Indie Pop
http://elliegoulding.com/

Por: Fernanda Blammer

É compreensível o sucesso em torno da recente obra de Ellie Goulding. Capaz de adaptar para o público amante da música pop o que há de mais esquizofrênico e por vezes experimental na cena alternativa, a cantora londrina alcança o segundo registro em estúdio ampliando mais uma vez a mesma fórmula de resultado atrativo, radiofônico e dançante que lhe apresentou ao mundo. Menos tímido que o antecessor Lights (2010), Halcyon (2012, Polydor) aposta no mesmo pop eletrônico que alavancou a carreira a cantora no final da década passada, proposta que agora se veste com uma manta de sons conceituais, enquadramentos próximos do etéreo e mais uma multiplicidade de elementos que fazem da artista uma verdadeira máquina de adaptação.

Goulding é tudo aquilo que você quiser que ela seja. Se procura por Florence and The Machine e os versos montados de maneira crescente escondidos dentro do disco Cerimonials (2011), basta ir até a faixa My Blood para ter essa mesma recepção. Se a busca é por uma canção mais experimental e que brinque com a eletrônica de forma semi-onírica, Anything Could Happen e a perfeita adaptação do que Grimes desenvolve na faixa Genesis está aí para isso. É possível ainda encontrar ecos de Robyn (Only You), um pouco de Beyoncé do disco 4 (Dead In The Water) e até Lykke Li nos momentos mais dolorosos e aconchegantes do álbum (Joy). Uma verdadeira colcha de retalhos sonoros costurados de forma a cobrir carinhosamente o grande público.

Halcyon é um trabalho que absorve a música dos outros artistas de tantas maneiras que até quando nos deparamos com a chegada de Hanging On – grande single do trabalho de estreia do norte-americano Active Child, You Are All I See (2011) – fica a dúvida se estamos nos deparando com mais apropriação de Goulding ou se trata de um assumido cover. Por falar na canção, inegável é a capacidade da britânica em expandir todos os limites da originalmente doce criação, uma faixa que não apenas arrasta a harpa de Patrick James Grossi para as pistas, como faz nascer uma composição rival para o que existe de mais sintético no trabalho de nomes como Katy Perry e Rihanna.

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Parceira de Skrillex (que deixa marcas bem visíveis no decorrer do disco), a britânica segue à sua maneira os passos do que o conjugue desenvolve dentro do brostep – a versão mastigada, totalmente dissolvida e pop do dubstep inglês. Enquanto o norte-americano converte de forma própria e comercial tudo aquilo que gigantes da eletrônica britânica vêm promovendo há mais de uma década, Goulding converte tudo aquilo que os maiores nomes do pop feminino vêm explorando ao longo dos últimos dois anos, uma continuação do mesmo resumo instrumental testado no disco anterior. Se em um passado recente a cantora queria ser La Roux, Little Boots e até Lady Gaga, hoje a proposta é outra, como se a Ellie se materializasse como um concentrado de tudo que definiu o mundo da música de 2010 até agora.

Ainda que falte surpresa ao registro (por vezes ele chega até a soar nostálgico), não há como contestar o quanto Halcyon consegue surpreender e fisgar o ouvinte. Seja pelos experimentos pop que se escondem no ritmo chapado de Halcyon ou o electropop descompromissado de Only You, cada porção do álbum se projeta de forma a grudar feito chiclete nos ouvidos do espectador. Mesmo quando brinca com um som de razões “conceituais”, como em Explosions, tudo é pensado de forma a encantar mesmo o mais exigente dos ouvintes. Dentro dessa marca da artista em planejar uma criação repleta de detalhes e versos fáceis mora de fato a grande identidade de Goulding, que mesmo pescando (ou sugando) referências consegue parecer estranhamente nova.

Contra toda a vertente de artistas que se apoiam de forma idêntica nos mesmos conceitos sonoros e poéticos, Ellie Goulding encontra “distinção” e uma formula “própria” por justamente apostar em uma diversidade de outros sons e experiências. Definitivamente um guia prático para quem passou os últimos anos sem entender ou conhecer o que acabou estabelecido dentro da música pop e do cenário alternativo. Apenas não esqueça de buscar por toda a informação original que a inglesa estuda e usa como base.

Halcyon (2012, Polydor)

Nota: 5.5
Para quem gosta de: Grimes, Florence and The Machine e Robyn
Ouça: Anything Could Happen e My Blood

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.