Disco: “Harmlessness”, The World Is a Beautiful Place & I Am No Longer Afraid to Die

/ Por: Cleber Facchi 01/10/2015

The World Is a Beautiful Place & I Am No Longer Afraid to Die
Indie/Emo/Post-Rock
https://theworldis.bandcamp.com/

Você não precisa ter sido um adolescente emo ou vivido entre o final dos anos 1990 e início dos anos 2000 para entender todo esse universo de temas e obras tão características. Basta um passeio rápido pelas canções de Harmlessness (2015), segundo álbum de inéditas da banda norte-americana The World Is a Beautiful Place & I Am No Longer Afraid to Die para que todo esse universo nostálgico seja instantaneamente remontado na cabeça do ouvinte. Um convite para reviver a música explorada há uma ou mais décadas sem necessariamente fugir do presente.

Complexo em relação ao antecessor Whenever, If Ever, de 2013, o álbum de 13 faixas e mais de 50 minutos de duração soa como um reflexo do enorme time de instrumentistas que se revezam na construção de cada faixa. Nove integrantes fixos que assumem a produção em estúdio, vozes e bases instrumentais, longe da trinca baixo-guitarra-bateria completo com a utilização de arranjos de cordas, sintetizadores e percussão. Um criativo ponto de convergência que longe de parecer turbulento, ecoa delicadeza e plena concisão por parte de cada componente.   

Assim como no registro entregue há dois anos, em Harmlessness o coletivo de Willimantic, Connecticut continua a brincar com diferentes cenas e universos musicais distintos. Não se trata apenas de reverenciar o trabalho de veteranos como American Footbal, Sunny Day Real Estate e Braid, mas todo o universo de artistas (independentes) que definiram a cena norte-americana no início da década passada. Difícil passar pelas canções do disco e não lembrar de artistas como Death Cab For Cutie, Modest Mouse, Bright Eyes, Jimmy Eat World, Annuals e todo o catálogo de bandas que deram vida à trilha sonora do seriado The O.C.

Ao mesmo tempo em que o grupo estabelece uma espécie de ponte para o passado, com Harmlessness, pequenos traços de identidade definem a obra do TWIABP. São conflitos amorosos (January 10th, 2014), personagens (Willie [For Howard]) e confissões (The Word Lisa) que tingem o trabalho com um romantismo raro. Versos escancaradamente dolorosos, capazes de catapultar o ouvinte da primeira à última faixa, estreitando com naturalidade a relação entre público e banda. Afinal, quem é que não passou pelas mesmas experiências detalhadas em grande parte do disco?

O atento diálogo do coletivo com elementos do Post-Rock parece ser outro ponto fundamental para o crescimento do álbum. Basta uma rápida passagem pelos atos climáticos de faixas como January 10th, 2014 e I Can Be Afraid of Anything ou os quase oito minutos da derradeira Mount Hum para que o ouvinte seja rapidamente hipnotizado pelo detalhado reforço dos instrumentos e arranjos aplicados pela banda. Uma coleção de temas ambientais que se espalham delicadamente, oníricos, sustentando atos em que as vozes – femininas ou masculinas – mergulham em dolorosos temas românticos e existencialistas.

Longe de parecer uma confirmação (ou ápice) dentro da curta trajetória do coletivo, em Harmlessness o grupo norte-americano indica todos os possíveis caminhos a serem assumidos em futuros lançamentos. Da trilha melódica deixada em January 10th, 2014, passando pelo orquestral acústico de You Can’t Live There Forever aos raros instantes de agressividade de We Need More Skulls, mais do que amarrar as pontas, o grupo se concentra apenas em provar de novas e irrestritas possibilidades, todas distantes do presente cenário e levemente inclinadas ao passado.

Harmlessness (2015, Broken World Media/Epitaph Records)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: American Football, You Blew It! e Empire! Empire!
Ouça: January 10th, 2014, You Can’t Live There Forever e The Word Lisa

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.