Disco: “Haven”, CHLLNGR

/ Por: Cleber Facchi 21/09/2011

CHLLNGR
Danish/Electronic/Ambient
http://www.myspace.com/chllngr

Por: Cleber Facchi

Em um ano em que o dubstep foi simplesmente “descoberto” pelo grande público ou mesmo por uma boa parcela da imprensa dita como “especializada”, não seria de se esperar que um sem número de produtores partissem em busca de um som que visasse explorar as mesmas experiências dos grandes nomes do gênero – o que de fato já vem acontecendo – resultando em uma sequência interminável de trabalhos sem um mínimo de inspiração. Estranho perceber que em meio a tantos plagiadores, alguns produtores ainda busquem pelo desenvolvimento de um som no mínimo inventivo, algo que o dinamarquês Steven Jess Borth II vem explorando com muita propriedade.

Oculto pela alcunha de CHLLNGR, o produtor – bastante conhecido por uma série de remixes voltados para grupos como The XX ou nomes como M.I.A. – chega agora com seu mais recente projeto, o hermético Haven (2011, Green Owl) um álbum que vai de encontro ao que está em voga na música eletrônica contemporânea, porém se mantém distante de qualquer enquadramento clichê ou repetitivo. Bebendo principalmente do Dub e de toda a profusão de sons eletrônicos inaugurados em solo britânico no final da década de 1990, o produtor delimita com cuidado todas suas estratégicas, promovendo um registro ao mesmo tempo específico e amplo.

Climático em todas suas extensões, Haven se vale de entrelace constante entre batidas assíncronas, o uso de um papel de parede musical obscuro e o encaixe cuidadosamente planejado de espessas texturas sonoras profundamente rebuscadas. Projetado em contornos sempre ponderados, o disco segue livre de quaisquer percalços, revelando uma tapeçaria instrumental que mesmo complexa se mantém longe de um conceito demasiado difícil ou que pareça destinado para um público muito específico.

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Em toda a extensão do álbum CHLLNGR ressalta o quando o 2-step britânico é fundamental para suas criações, desenvolvendo faixas tomadas por uma natureza quase efêmera, como se as composições fossem aos poucos se desintegrando no decorrer do registro tamanha fragilidade proporcionada. A herança de discos como Untrue do Burial, além de algumas visíveis exposições da IDM detalhista de produtores como Four Tet e Autechre estão por cada cando do álbum, com o dinamarquês se apresentando como um aluno aplicado, seguindo os passos de seus mestres, porém agregando certa dose de identidade aos seus compostos.

Muito do que evita que o álbum se transforme em um projeto demasiado similar ou pouco criativo reside nas pequenas transições do disco através de elementos que perpassam tanto o R&B como a ambient music em suas formas mais recentes. Em Sundown, por exemplo, é possível observar este exato cruzamento, com os dois elementos sendo dissolvidos em uma chuva fina de beats quebrados e samples abafados, tudo isso enquanto os vocais doces da conterrânea de Coco O trazem certa dose de música pop ao registro, abrindo a possibilidade para que o álbum acabe se envolvendo com um público ainda mais amplo.

Seguindo pelas mesmas experiências musicais que atravessam o trabalho dos recentes Balam Acaab e Holy Other, porém investindo intensamente no uso de beats mais detalhistas, CHLLNGR transforma sua mais nova investida musical em um projeto que mesmo tecnicamente limitado consegue satisfazer seu ouvinte. Distante de promover um trabalho excessivamente solitário e centrado unicamente em recortes e colagens instrumentais, o produtor chega acompanhado de uma trinca de vozes – além da já mencionada Coco O, os músicos Aku e Jessica Brown marcam presença no disco – completando qualquer lacuna ou rachadora que venha a prejudicar o disco.

Haven (2011, Green Owl)

 

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Burial, SBTRKT e Four Tet
Ouça: Sundown e Ask For

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.