Disco: “Heathen”, Thou

/ Por: Cleber Facchi 15/04/2014

Thou
Sludge Metal/Doom Metal/Alternative
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Por: Cleber Facchi

Thou

Atos lentos de guitarras, vozes absorvidas como instrumentos e um curioso senso de ordem em um cenário guiado pela destruição. Assim é a composição de Heathen (2014, Gilead Media) mais recente projeto do grupo norte-americano Thou. Centrada em New Orleans, Luisiana, a banda deixa de lado as experiências jazzísticas/boêmias, típicas da da produção local, para se envolver com um som tão pantanoso e denso quanto o próprio ambiente de origem. Um panorama sufocante em essência e curiosamente capaz de arrastar o ouvinte por quase 70 minutos de arranjos instáveis, mas ainda assim desafiadores.

Em atuação desde o meio da década passada, direcionamento que sustenta uma produção de quase 30 registros em estúdio – entre singles, EPs, split albums e registros completos -, o coletivo firma na presente obra um projeto de evidente apresentação aos novos ouvintes, feito que não exclui a explícita maturidade do grupo. Mas qual a grande diferença entre as faixas inéditas que alimentam o novo registro e todo o arsenal revelado previamente pela banda? A resposta para isso parece fluir em uma única palavra: imersão.

Como um ato único a ser explorado pelo ouvinte, cada arranjo, voz ou mínima emanação instrumental que cresce pelo disco arrasta o espectador para um ambiente hipnótico até o último acorde. Na contramão de outras obras entregues aos ruídos fixos do Doom Metal, Heathen é uma obra alimentada pela comunhão dos sons, efeito que dança pelas guitarras de Andy Gibbs e Matthew Thudium, cresce nas batidas pontuais Josh Nee e sobrevive com excelência na voz sombria de Bryan Funck. O típico caso de um disco que se mantém por conta própria e continua a crescer mesmo passada a execução da última faixa.

Ainda que esbarre em uma série de conceitos favorecidos por outros veteranos do gênero, Heathen borbulha em um cenário em que todas as regras são reforçadas por um toque particular. O alinhamento “punk” do grupo, adepto da “filosofia” DIY, esquiva o registro de uma solução impulsionada por atos cênicos, fantasias soturnas e outras emanações típicas do estilo. Pelo contrário, cada segundo do registro sobrevive de forma natural pela formação dos arranjos sujos e somente eles. Apenas “garotos” mergulhando em um oceano obscuro de distorções e letras abastecidas pela dor, morte e descrença.

Movido como um bloco fechado de experiências, o registro amplia a carga invasiva das canções por conta da inclusão de pequenos respiros entre as faixas. São passagens acústicas como em Dawn (Interlude 1) e Take off Your Skin and Dance in Your Bones (Interlude 4) que quebram a falta de atenção ou mesmo que o ouvinte se perca no decorrer das músicas. Intervalos assertivos, pacatos e uma espécie de aviso de que algo “maior” (e mais sujo) está por vir, logo em frente.

Em um sentido de quebra ao que o elogiado Sunbather (2013), último registro em estúdio do Deafheaven, trouxe como imposição ao metal alternativo, Heathen é uma obra que se organiza dentro de regras, sons e ambientações próprias. Enquanto músicas como Feral Faun atentam para um ambiente de pura desconstrução, outras como Immorality Dictates brincam com as melodias em um efeito curioso, prova de que tentar posicionar o trabalho da banda dentro de uma cena ou gênero ao menos por enquanto se revela como uma tarefa impossível. Respire fundo e seja bem vindo ao universo paralelo do Thou.

 

Thou

Heathen (2014, Gilead Media)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Salome, Lycus e Pallbearer
Ouça: Immorality Dictates, Ode to Physical Pain e Feral Faun

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.