Disco: “Held”, Holy Other

/ Por: Cleber Facchi 28/08/2012

Holy Other
Experimental/Witch House/Electronic
https://www.facebook.com/holyother

Por: Cleber Facchi

O mistério parece ser uma ferramenta fundamental ao trabalho do produtor britânico Holy Other. Com o verdadeiro nome ainda desconhecido do público e quase sempre se apresentando com um pano branco sobre o rosto, o misterioso artista surgiu há pouco mais de dois anos de posse de uma coleção de músicas tão sombrias e curiosas quanto o visual fantasmagórico que ostenta. Dono de um EP que brinca com as texturas, inventos e emanações soturnas – o ótimo With U de 2011 -, o produtor faz do primeiro registro oficial um projeto que vai além dos limites climáticos dos lançamentos anteriores, transformando o experimental Held (2012, TriAngle) em um portal para o plano soturno e ruidoso que ele parece comandar.

Flutuando do princípio ao fim em um plano sonoro que percorre o hip-hop instrumental de nomes como Clams Casino e Evian Christ, a temática ambiental da estreia de Balam Acab – no excelente Wander / Wonder – e em alguns instantes se aproximando da mesma melancolia instrumental do How To Dress Well, Holy Other faz do presente álbum uma fonte inesgotável de sons complexos e elementos estritamente experimentais. Ora imerso na ambient music convencional (com expõe na faixa In Difference), ora dentro da mesma climatização cacofônica que ecoa na Witch House (bem exemplificada em (W)here), o produtor torna claro que o ato de experimentar e a prova constante de novas tendências musicais funciona como única e imutável ordem dentro do álbum.

Ainda que as formas irregulares deem sustento a toda a execução do trabalho, configurando a realização de um registro não óbvio e inteiramente calcado no experimento, quanto mais nos aprofundamos na natureza complexa da obra, mais percebemos o quanto alguns padrões são formados ao longo do álbum. Mesmo tomadas pelo ineditismo, cada faixa encontra no uso de bases sombrias, batidas não convencionais e vocais maquiados a estrutura padrão que lentamente resulta nas principais características do álbum. Entretanto, se engana quem pensa que por conta disso o registro perde pontos em se tratando de originalidade. Por mais “redundante” que seja a estrutura atribuída ao álbum, a inventividade do produtor em perverter toda e qualquer estrutura a cada nova faixa faz com que o disco cresça em experimentos que o afastem de um som tradicional.

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Partindo dessa necessidade constante de se renovar (mesmo que dentro de formas pré-determinadas de sons), Holy Other promove a execução de faixas que por vezes se entregam a um resultado mais convencional, proposta que tanto Tense Past como a faixa título executam com maestria ao longo do disco. A proposta estimula de alguma forma a criação de pequenas brechas aos que ainda desconhecem o nada convencional trabalho do produtor, além disso, em alguma medida os momentos mais “fáceis” do registro servem como preparação ao que o britânico amarra nas formas mais sombrias e naturalmente misteriosas do álbum. É como se ele estabelecesse uma extensa vinheta ou introdução apurada para que composições maiores (conceitualmente) como Love Some1 e Nothing Here acabam se sustentando com o passar da obra.

Embora até seja possível afirmar que pouco se transformou desde o último lançamento do britânico (pela estrutura das canções), basta um simples passeio pela obscura faixa de abertura, (W)here, para perceber a distância percorrida pelo produtor entre o último e o atual registro apresentado por ele. Enquanto o EP lançado em 2011 amarrava de forma bem decidida uma construção suave que se materializava como o pano branco utilizado na capa do trabalho, hoje esse mesmo pedaço de tecido se modificou, parece mais denso e capaz de revelar uma série de texturas antes incompreensíveis. Dentro dessa variedade de elementos que configuram toda a execução do disco, surgem faixas que puxam Holy Other para um novo patamar, com o produtor explorando em músicas como U Now e a sutil In Difference, uma nova e ainda indefinida frente musical.

Held ao lado de tantos outros lançamentos que de uma forma ou outra se relacionam com a esquizofrenia musical da Witch House prima inteiramente pela necessidade de fugir do óbvio e de elementos sonoros de caráter convencional. Talvez falte ao disco o mesmo esforço ou o toque de exagero incorporado por Clams Casino em sua série de registros instrumentais, contudo, o álbum partilha abertamente dos minimalismos tratados por Balam Acab, oOoOO e outros tantos artistas do gênero, se transformando em um espaço natural de inquietações, mas também beleza e calmaria. Existe algo por trás do tecido branco que oculta o rosto de Holy Other, algo além de respostas ou um simples rosto, mas isso se altera para cada ouvinte e a cada nova audição.

Held (2012, TriAngle)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Balam Acab, Clams Casino e Evian Christ
Ouça: Love Some1, U Now e Past Tension

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.