Disco: “Hello Sadness”, Los Campesinos!

/ Por: Cleber Facchi 08/11/2011

Los Campesinos!
British/Indie Pop/Twee
http://www.loscampesinos.com/

 

Por: Cleber Facchi

 

Enquanto a Inglaterra viveu a retomada ao pós-punk ao longo de toda a última década, revelando alguns dos melhores e (ênfase nessa parte) piores exemplares do rock contemporâneo, um septeto de músicos parecia seguir por uma via oposta ao que surgia no país naquele momento. Mergulhados em uma soma de sons adocicados e tomados pela vastidão instrumental, os integrantes do Los Campesinos! conseguiram não apenas romper com o cenário local, mas desenvolveram de forma apurada uma forte ligação com o que artistas como Broken Social Scene ou mesmo os veteranos do Belle and Sebastian já vinham há tempos desenvolvendo.

Sempre melódicos e soando como uma cria óbvia do sempre colorido cenário musical sueco – muito do que a banda promove dialoga com o trabalho de bandas como I’m From Barcelona e Shout Out Louds -, o grupo de Cardiff chega agora com seu quarto registro em estúdio, promovendo mais uma sequência de acertos e, obviamente, composições puramente encantadoras. Do épico ao melancólico, passando pela graciosidade e a delicadeza, bem vindos ao universo sublime de Hello Sadness.

Não deixe que a capa ou mesmo o título do registro – “olá tristeza” – antecipem a possibilidade de um álbum embarcado pela tristeza ou pela composição de sons puramente soturnos e obscuros. Por mais que algumas faixas presentes no registro até puxem o trabalho do grupo para junto de um universo de sons amargurados e canções livres da grandiosidade alegre de outrora, boa parte do que movimenta o álbum (principalmente em seus momentos iniciais) se concentra nos já característicos elementos da banda, transformando o trabalho em mais uma consequente sequência de belos acertos e faixas memoráveis.

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Muito do que parece delimitar o recente trabalho da banda inglesa se conecta de maneira direta ao que fora propagado pelo grupo em seu último trabalho, Romance Is Boring, de 2010. Na ocasião do lançamento do álbum, alguns dos integrantes do septeto admitiram em entrevistas que muito do que delimitava o então novo disco vinha diretamente de bandas como Blur e Modest Mouse. Por mais ambiciosa que fosse a constatação era exatamente isso que delimitava o trabalho da banda naquele momento, que cruzou as doces melodias do grupo londrino, com a excentricidade épica e nada obvia dos norte-americanos, convertendo seu terceiro projeto em mais um fundamental catálogo de grandes composições.

De fato a abertura de Hello Sadness com a faixa By Your Hand parece se conectar diretamente com a última faixa do álbum de 2010 – Coda: A Burn Scar in the Shape of the Sooner State –, gerando um caráter visível de trabalho conjugado. A grande diferença entre as duas obras está principalmente na forma como os recentes arranjos instrumentais são explorados. Enquanto no último álbum havia a necessidade da banda destilar cada instrumento de forma individual, com o presente disco temos um efeito contrário, com o septeto concentrando suas letras, voz e todos os instrumentos de forma única, como se tudo convergisse para um único ponto.

John Goodmanson, já velho companheiro do grupo britânico, mais uma vez deixa transparecer sua fundamental contribuição ao trabalho do septeto, produzindo um disco límpido e faixas sempre concisas. O resultado disso se materializa em um registro onde todas as composições parecem intimamente conectadas, convergindo para a reprodução de um álbum ao mesmo tempo acessível e radiofônico, mas que se revela capaz de reproduzir uma sonoridade completamente vasta e nunca convencional. Os Campesinos estão de volta e sua coleção de belas composições é ainda maior.

 

Hello Sadness (2011, Wichita Recordings)

 

Nota: 7.9
Para quem gosta de: Shout Out Louds, Parenthetical Girls e I’m From Barcelona
Ouça: Every Defeat A Divorce (Three Lions) e Hello Sadness

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.