Disco: “Here and Nowhere Else”, Cloud Nothings

/ Por: Cleber Facchi 26/03/2014

Cloud Nothings
Indie Rock/Alternative Rock/Post-Hardcore
http://cloudnothings.com/

Cloud Nothings

Os ouvidos de Dylan Baldi e todas suas experiências parecem apontar para o passado, para os anos 1990. Depois de brincar com o Pop Punk no autointitulado registro de estreia, em 2011, e passear pelo Grunge no sombrio Attack on Memory, de 2012, o músico norte-americano traz de volta as velhas imposições estéticas para reforçar uma obra tão dele quanto de outros veteranos do rock alternativo. Em Here and Nowhere Else (2014, Carpark), mais do que ressuscitar experiências há tempos adormecidas, o uso calculados das guitarras faz crescer um território dominado em essência pelo jovem músico. É hora de visitar o passado (mais uma vez), sem necessariamente fugir do presente.

Emergencial e muito mais agressivo que o trabalho que o antecede, o presente registro encontra na crueza exposta por Dylan um natural princípio de condução. São pouco mais de 30 minutos de duração, efemeridade que se embaralha em meio ao uso de vocais ásperos do cantor e a guitarra esquizofrênica controlada por ele – ferramenta que se divide entre riffs tortos e bases poluídas de distorção. Sob a formação de um Power Trio – acompanham TJ Duke (baixo) e Jayson Gerycz (bateria) -, Dylan se esquiva de qualquer detalhismo abrangente, tratando do álbum como uma imensa massa de sons.

Em um sentido de afastamento ao esforço anunciado em músicas como No Future/No Past (pianos) e Stay Useless (guitarras detalhistas), o trio projeta um registro alimentado pelo esforço “minimalista” dos arranjos. Delineado por uma crueza imediata, o trabalho esbarra em diversos aspectos na mesma agitação proposta pelo Japandroids em Celebration Rock (2012): uma obra que indispõe de grandes significados ou maquinações subjetivas, precisa apenas existir. Dos acordes ascendentes em Now Here In ao brilho melódico que acompanha I’m Not Part Of Me, Here and Nowhere Else é um trabalho que sobrevive das próprias limitações – e parece lidar muito bem com isso.

Fazendo valer a estratégia referencial exposta desde o primeiro disco, com o atual projeto, Dylan encontra nas experiências do (pré e pós) Hardcore um objeto de sustento. Mais do que observar com atenção a obra de gigantes como Fugazi, o músico parece explorar pequenos desdobramentos do subgênero, o que acaba por conceder liberdade ao disco. Seja na imposição densa que orquestra músicas como Quieter Today ou mesmo a grandeza de Pattern Walks, vários aspectos do registro também passeiam por recortes musicais do cenário pós-Grunge. Um efeito que vai da herança escancarada do Foo Fighters (com Psychic Trauma) ao desespero do Sunny Day Real Estate (em Now Here In) ao em poucos segundos.

Longe de ambientar o ouvinte em um cenário dominado pela nostalgia, assim como em Attack on Memory, a beleza da música assinada por Dylan está em suas próprias imposições. Ao brincar com a constante quebra de direção – dentro de cada faixa -, o músico fixa um labirinto de experiências perturbadoras, proposta apresentada com acerto no disco de 2012, mas seguida com maior autenticidade no presente lançamento. Mais do que apenas entregar ruído ao espectador, o músico usa do disco como reflexo da própria maturidade. É difícil não se deixar conduzir pelos versos sóbrios de Pattern Walks enquanto as guitarras se espalham em meio a uma massa amarga de ruídos (quase) psicodélicos.

Mesmo ao abraçar uma série de conceitos gastos – muitos deles há mais de duas décadas -, Baldy curiosamente parece ter encontrado um ponto de ineditismo. Seja ao expressar os próprios sentimentos de forma crua, ou aglutinar gêneros em um só ambiente, cada música do trabalho revela um toque sóbrio de musicalidade e lirismo raro em um trabalho do estilo. A julgar pelo efeito dado ao novo disco, viagem do Cloud Nothings pela década de 1990 está longe de ter fim, pelo contrário, está apenas começando.

 

Cloud Nothings

Here and Nowhere Else (2014, Carpark)

Nota: 8.8
Para quem gosta de: Japandroids, Speedy Ortiz e Male Bonding
Ouça: Pattern Walks, Now Here In e I’m Not Part Of Me

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.