Disco: “Here”, Edward Sharpe and the Magnetic Zeros

/ Por: Cleber Facchi 08/06/2012

Edward Sharpe and the Magnetic Zeros
Folk/Indie/Indie Pop
http://edwardsharpeandthemagneticzeros.com/

Por: Cleber Facchi

O aparecimento de Devendra Banhart no começo da década passada teve uma importância única para o resgate das influências hippies bem como o fortalecimento de um som de oposição ao que propunham as guitarras típicas da cena indie norte-americana, principalmente o que era construído na região do Brooklyn, Nova York. Espécie de líder religioso-musical, o artista texano estabelecido na Califórnia serviu como base e influência maior para uma infinidade de projetos que viriam a surgir dali em diante. Nomes como Joanna Newsom, Cocorosie, Vetiver e tantos outros que partilhariam do mesmo sentimento e sonoridade assumidos abertamente pelo cantor.

Embora busque certo afastamento do que Banhart expõe em sua obra, o também californinano Alex Ebert não consegue esconder a forte conexão – seja ela sonora ou mesmo visual – que mantém com o autor dos clássicos Rejoicing in the Hands (2004) e Cripple Crow (2005). Líder do Edward Sharpe and the Magnetic Zeros, o músico parece se sustentar em cima das mesmas bases do conterrâneo, mergulhando fundo na psicodelia folk que definiu a música dos anos 60, além de se apoiar em um som montado em cima de um imenso coletivo musical, grupo que reproduz toda a força neo-hippie que preenche cada instante dos registros comandados por ele, inclusive o recente Here (2012, Vagrant/Rough Trade), segundo e mais novo álbum de estúdio do compositor.

Mais do que se aproximar de uma musicalidade calcada em antigas nostalgias, ao longo do disco a banda se deixa consumir abertamente tanto pela musica country como pelos toques de soul, referências que percorrem cada uma das nove canções do recente trabalho e expandem os territórios do grupo californiano. A conexão entre os dois gêneros por vezes possibilita que eles se encontrem, como em That’s What’s Up, faixa que explora ambas as referências como iguais, estabelecendo um rico encontro no interior da obra. Embora fracionada, não há como negar o quanto a aproximação com o cancioneiro norte-americano parece maior do que os toques de música negra, estratégia já testada no álbum anterior, mas que se intensifica com o passar do presente disco.

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Se a conexão com a obra de Devenda Banhart está por todos os cantos do disco, pelo menos essa relação se dissolve de maneira particular ao longo do trabalho. Mesmo que o sentimento messiânico incorporado por Alex Ebert seja o mesmo de sua “inspiração”, conforme o álbum se movimenta e canções como I Don’t Wanna Pray e Dear Believer vão surgindo a proposta se revela de forma distinta e de leve oposição. Enquanto Banhart parece incorporar um sentimento universal e quase filosófico em suas letras, Ebert assume uma postura mais religiosa, com muitas de suas faixas falando sobre fé, crenças e uma proposta que por vezes aproxima ele e os parceiros de banda da música gospel.

Perceptivelmente menor que o disco anterior – Up from Below (2009) – com o novo álbum Ebert e os parceiros se aproximam de uma sonoridade bucólica e totalmente delicada, esforço que por vezes os aproxima de tudo que fora construído pelo Fleet Foxes (do primeiro disco) ou de outros grandes representantes da cena folk atual. Até a sutileza vocal de Bon Iver parece surgir vez ou outra, aproximação que a imensa banda deixa aparente logo na faixa de abertura Man On Fire, um doce retrato do que seria a música “pop” há mais de cinco décadas. A calmaria acaba por definir a estrutura geral do disco, afinal, são apenas nove canções e menos de quarenta minutos de duração, um completo oposto da grandiosidade que cobria o disco anterior.

Estranho perceber, mas ao mesmo tempo em que a delicadeza das formas contribuem para garantir beleza ao registro, o excesso de controle – da banda ou do próprio Ebert – impede que ele cresça e atinja um melhor resultado. Mesmo gigantesco o Edward Sharpe and the Magnetic Zeros parece não encontrar a mesma força que tanto define o trabalho de qualquer outro grande grupo. Coletivos em que a presença de um amplo número de colaboradores amplia e eleva significativamente os resultados de qualquer registro. Tudo que é feito no interior de Here pare feito por um homem só e talvez não seja isso que os ouvintes esperem de um projeto como este.

Here (2012, Vagrant/Rough Trade)

Nota: 6.5
Para quem gosta de: Devendra Banhart, Fleet Foxes e Bon Iver
Ouça: One Love To Another e Man On Fire

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.