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Críticas

Frankie Rose

: "Herein Wild"

Ano: 2013

Selo: Fat Possum

Gênero: Indie Rock, Dream Pop

Para quem gosta de: Dum Dum Girls e Blouse

Ouça: Street Of Dreams e Sorrow

7.3
7.3

Disco: “Herein Wild”, Frankie Rose

Ano: 2013

Selo: Fat Possum

Gênero: Indie Rock, Dream Pop

Para quem gosta de: Dum Dum Girls e Blouse

Ouça: Street Of Dreams e Sorrow

/ Por: Cleber Facchi 25/09/2013

Dois nítidos universos separam a norte-americana Frankie Rose do resultado exposto em Interstellar (2011) do recente Herein Wild (2013, Fat Possum). Se há pouco mais de um ano a cantora centrada na região do Brooklyn, Nova York parecia arrastar o ouvinte para junto de um jogo de canções amenas, marcadas pelo teor quase ensolarado das guitarras e sintetizadores, hoje, ao passear pelo território específico do novo álbum tudo se transforma. Sombrio, melancólico em totalidade, mas ainda assim delineado por cuidadosas harmonias, o disco se apresenta como uma oposição ao registro anterior, mas que não exclui proximidade.

Sustentado por faixas marcadas de gracejo (Daylight Sky), guitarras nostálgicas (Night Swim) e um adorável toque de emanações típicas da década de 1970 (Know Me), Interstellar trouxe na fluidez quase sussurrada dos instrumentos e vozes um apelo imediato. É uma obra que ecoa sem quaisquer bloqueios ao ouvinte, um registro que vai da primeira à última composição sem esbarrar em possíveis exageros ou instantes maiores de complexidade. Logo ao pisar em You For Me, primeira faixa do novo álbum, a mudança é clara e expressiva. Construído e feito para ser absorvido em doses, o presente disco fragmenta o trabalho de Rose em diferentes atmosferas, como se cada canção pressionasse o ouvinte a estacionar, ouvir, e só depois seguir em frente.

Na pratica, as vozes sempre climáticas da cantora – como uma espécie de sintetizador ondulado – ainda funcionam como a principal base de toda a concepção da obra. Dos instantes iniciais ao fechamento delicado de Requiem, Rose é figura constante e essencial para a consolidação das músicas. Mesmo o teor sombrio dos arranjos em nenhum instante minimizam a presença volátil da artista, que ao entender a si própria como um instrumento se fragmenta, reconstrói e se esparrama confortavelmente em cada faixa, garantindo ao ouvinte um passeio sonoro pontuado de forma constante pelo ineditismo.

Em um sentido de quase oposição ao cenário proposto até pouco tempo, as guitarras lentamente se aproveitam do álbum de forma a rivalizar com a presença vocal da artista. Sombria, The Depths é uma canção que bem representa toda essa alteração em torno da obra. Ainda que Frankie Rose se erga como figura ativa, as doses crescentes de ruídos (que muito lembram Dum Dum Girls) convertem o álbum em um jogo de arranjos soturnos, ora envolventes, ora melancólicos. Entretanto, é em Street Of Dreams que esse efeito é realmente ampliado. Construída em pequenos atos, a canção, inicialmente compacta, cresce com parcimônia até preparar o terreno para um jogo experimental de teclados.

Talvez o que mais custa a impressionar o ouvinte em Herein Wild seja a presença expressiva de faixas nada comerciais e excessivamente comportadas. São músicas como Cliffs As High, Minor Times e Requiem, que ao condensar todos os instrumentos em um mesmo composto abrandado amortecem intencionalmente o espectador, aprisionando os rumos do álbum em labirinto óbvio em alguns instantes. Rose, em um sentido oposto aos dois primeiros discos, principalmente em relação ao último, parece muito mais inclinada a questionar do que fornecer respostas fáceis em si.

Sombrio, mesmo que Herein Wild exclua a presença de canções bordas com realces harmônicos, a capacidade de Frankie Rose em hipnotizar o ouvinte sem grandes dificuldades se mantém a mesma – talvez até ampliada. Por vezes encarado como uma espécie de filtro para quem tenha seguido de maneira cega as pistas do álbum passado, cada uma das dez composições que passeiam pelo registro parecem ambientar o ouvinte em um cenário de beleza similar, porém, de efeito que precisa de um tempo maior para ser entendido em completude, prova de que quem chegar com pressa ao disco, talvez aprecie um projeto desequilibrado.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.