Disco: “Hesitation Marks”, Nine Inch Nails

/ Por: Cleber Facchi 02/09/2013

Nine Inch Nails
Industrial/Electronic/Alternative
http://www.nin.com/

Por: Fernanda Blammer

Trent Reznor

Ninguém parece capaz de replicar o universo sujo que flutua pela obra de Trent Reznor com o Nine Inch Nails. Mesmo o cenário obscuro recentemente apresentado em Welcome Oblivion (2013), estreia do How to Destroy Angels e projeto paralelo de músico,  parece longe de repetir o mesmo planejamento frenético e as composições sombrias que crescem pela obra do cantor. Ciente disso, Reznor deixa o hiato iniciado em 2009 para regressar ao mesmo cenário “abandonado” em The Split (2008), transformando Hesitation Marks (2013, Columbia) em mais um mergulho no submundo lírico-instrumental que há tempos o acompanha.

Longe do clima abafado exposto em Pretty Hate Machine (1989), porém, ainda herdeiro do próprio trabalho iniciado em The Downward Spiral (1994), Reznor assume com a presente obra a busca por um som de reforço cada vez mais comercial – principalmente no manuseio preciso das melodias. Enquanto The Slip lidava com esse sintoma em um autocontrole visível, agora o músico parece pouco se importar com as próprias imposições e pequenas barreiras, transformando Hesitation Marks em fino exemplar da música pop – segundo o filtro do NIN, claro.

Mesmo que o catálogo inicial de canções – sustentadas por Copy of A e Came Back Haunted – reforcem toda a agitação sombria pós-With Teeth (2005), a medida que o registro se desenvolve, Reznor arrasta o ouvinte por um mundo de canções acessíveis e melodicamente apresentáveis. São músicas como All Time Low, que transformam a herança de David Bowie em um produto plástico, aberto ao grande público, ou mesmo outras como Running, composição que aproxima o projeto das pistas em um exercício atencioso. Nenhuma, entretanto, repete o mesmo delineamento do “pop-rock” que abastece Everything, faixa que transforma o NIN em alguma banda radiofônica do começo dos anos 1980.

Claro que a busca por uma tonalidade “comercial” não exclui a possibilidade de Reznor em brincar com faixas de caráter sombrio e complexo. É o caso de Satellite, um típico exemplar do NIN na década de 1990, ou mesmo In Two, composição que bem poderia ter sido encontrada em qualquer obra lançada a partir de 2000. Outras como While I’m Still Here reforçam a capacidade do músico em desenvolver composições de movimento climático, uma quase sequência aos sons acumulados na série Ghosts (2008) ou mesmo nas criações ao lado de Atticus Ross.

A partir desse ponto o leitor já deve ter percebido: todas as faixas de Hesitation Marks refletem de alguma forma os inventos anterior assinados por Reznor. “Eu sou apenas uma cópia de uma cópia de uma cópia” anuncia o músico logo no começo do disco, em A Copy Of A. Resumo voluntário e talvez uma forma de alertar sobre a própria existência nesses quatro anos de hiato, o trabalho cresce em um sentido assumido de coletânea, repetindo os mesmos acertos (All Time Low) e erros (Disappointed) que há tempos acompanham o trabalho do norte-americano.

Hesitation Marks assume dentro desse propósito de ideias em repetição um caminho duplo. 1) Para os que desconhecem a obra do NIN, o disco talvez funcione, apresentando verdadeiros Hits e condensando essências em um regime expressivo de acerto. Uma obra com prazo de validade, estendida até que os novatos se deparem com o cardápio original da banda. 2) Já aos que atravessaram a obra prévia do grupo norte-americano, o novo álbum nada mais é do que uma coletânea ideias repetidas, uma tentativa de recriar o mesmo universo, sem acrescer nada de realmente novo. Um bom disco, se você realmente tampar os ouvidos para tudo o que Reznor conquistou com verdadeira identidade anteriormente.

 

Nine Inch Nails

Hesitation Marks (2013, Columbia)

Nota: 5.5
Para quem gosta de: How To Destroy Angels, Atticus Ross e Depeche Mode
Ouça: Copy of A, Came Back Haunted e All Time Low

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.