Disco: “High Hopes”, Bruce Springsteen

/ Por: Cleber Facchi 09/01/2014

Bruce Springsteen
Rock/Singer-Songwriter/American
http://brucespringsteen.net/

Por: Cleber Facchi

Bruce Springsteen

É difícil não e deixar conduzir pela obra de Bruce Springsteen. Na contramão de outros artistas de forte apelo popular, produzidos para “toda a família”, o cantor e compositor norte-americano parece capaz de soterrar os próprios clichês, transformando cada novo álbum em uma obra de forte aceitação. Ainda que esteja longe de igualar a mesma jovialidade e os versos fortes que esculpiram clássicos como Born To Run (1975) e Nebraska (1982), o veterano de Nova Jersey mantém a boa forma em um estágio de natural evidência. Posição que orquestra com intensidade a atmosfera de High Hopes (2014, Columbia), 18º registro em estúdio do cantor.

Ainda que tratado como um trabalho de inéditas, o presente álbum nada mais é do que um passeio atento pela obra de Springsteen – ou mesmo além dela. Condensado de músicas que acabaram de fora de antigos registros, High Hopes cresce como um imenso quebra-cabeça montado sem ordem aparente. São músicas como American Skin (41 Shots), apresentada ao vivo em 2001 e posteriormente lançada como single, ou mesmo versões para o trabalho de outros artistas, caso de Just Like Fire Would, apresentada pela primeira vez em 1986 pela banda australiana The Saints.

Distante do anterior Wrecking Ball, de 2012, o novo disco deixa de lado o coro de vozes, o R&B e a instrumentação (quase) orquestral para abraçar uma composição “econômica”. Íntimo das guitarras velozes que esculpiram boa parte dos trabalhos lançados na década de 1980 – Born in the U.S.A. (1984) entre eles -, o cantor usa de convidados à exemplo de Tom Morello como um ponto de jovialidade para a obra. A presença do músico, longe de distorcer a estética dos companheiros da E Street Band, cresce como um natural reforço para o disco, aproximando (mais uma vez) Springsteen de toda uma safra de novos ouvintes.

Arquitetado como um disco para as eufóricas apresentações ao vivo do cantor, High Hopes atravessa diferentes aspectos da obra de Springsteen sem necessariamente parecer instável. Enquanto a abertura do álbum entrega ao ouvinte músicas de explícita grandeza – caso do Soul Rock de Heaven’s Wall e a radiofônica Just Like Fire Would -, para o eixo final do disco, um conjunto de baladas melancólicas e canções soturnas reforçam o lado menos épico do cantor. Composições como Hunter of Invisible Game, com seu cuidadoso arranjo de cordas, ou mesmo criações intimistas, caso da semi-acústica The Wall, aproximam o ouvinte de um cenário pontuado pela sobriedade e doses de reflexão.

Sem  ordem aparente, determinadas faixas acabam ultrapassando essa provável divisão, estratégia que serve como respiro e ao mesmo tempo um mecanismo de estímulo para o trabalho. Enquanto a raivosa The Ghost of Tom Joad, com quase oito minutos de duração, rompe com a morosidade instalada no eixo final do registro, Down in the Hole, ainda na metade inicial, serve como um aquecimento para aquilo que Heaven’s Wall sustenta de forma ainda mais grandiosa. Sobram ainda músicas como American Skin (41 Shots), canção que mais parece um agregado de todos os elementos – líricos e musicais – que definem a obra.

Distante de um possível comprometimento temático ou espaço maior dentro da obra do cantor, High Hopes se sustenta de forma evidente como um bom disco, porém, nada além disso. São canções típicas da herança autoral de Springsteen – evidencia declarada nos arranjos e vozes de American Skin (41 Shots), Heaven’s Wall e Hunter of Invisible Game -, mas que em nada influem no resultado prévio (ou futuro) do músico. Uma típica obra de exercício, mas que imediatamente clama por um registro maior.

 

Bruce Springsteen

High Hopes (2014, Columbia)

Nota: 6.0
Para quem gosta de: Bob Dylan, U2 e Neil Young
Ouça: American Skin (41 Shots), Harry’s Place e Heaven’s Wall

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.