Disco: “Hit The Waves”, The Mary Onettes

/ Por: Cleber Facchi 06/03/2013

The Mary Onettes
Swedish/Dream Pop/Post-Punk
http://www.themaryonettes.net/

 

Por: Fernanda Blammer

The Mary Onettes

Depois dos pequenos erros estabelecidos em 2009, durante o lançamento de Islands, o quarteto The Mary Onettes comprovava o que talvez já fosse  óbvio desde o final do primeiro álbum: evoluir havia se transformado em uma necessidade para a banda. Desde o começo da carreira embarcado por melodias sombrias que reviviam a boa forma do Pós-Punk e do Dream Pop ao longo de toda a década de 1980, o grupo de Jönköping, Suécia parecia longe de continuar a mesma onda de acertos iniciados com o autointitulado debut, trabalho lançado em idos de 2007. A mesma redundância que afundou os nova-iorquinos do Interpol, além de outros tantos grupos ingleses, pouco à pouco mergulhava a banda sueca na mesma redundância.

E que forma mais natural de evoluir e se desprender de antigos vícios do que deixar a temática soturna para trás em prol de um som ameno e quase ensolarado? Pois é exatamente isso que o grupo alcança com o lançamento de Hit The Waves (2013, Labrador), terceiro registro de estúdio e um passeio musical pela orla do mar. Quase íntimo de toda a onda de registros semi-caseiros que vêm ocupando o verão norte-americano desde 2010, o novo álbum quebra de forma intencional o frio que se esconde nos dois primeiros álbuns da banda. A dor ainda é uma constante, porém, acompanhada de um cheiro doce de protetor solar.

Tão logo o anúncio do novo disco se deu em novembro do ano passado, a faixa-título já deixava marcas claras do que viria a ser explorado na nova fase do grupo. Segunda composição do álbum depois da ruidosa vinheta de abertura e da melancólica Evil Coast, a canção identifica toda a mudança que rompe com a temática obscura de Islands, porém, serve para indicar que mesmo tomado pelas transformações, Hit The Waves ainda mantém firme a relação com o passado do quarteto. Por mais que o Sol brilhe ao longo do disco, a luz que banha o grupo de 10 inéditas composições se encaminha para um fim de tarde, o mesmo pôr do sol amargo que orienta Black Sunset, uma das grandes composições que recheiam o novo disco.


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Se a transformação é uma necessidade, parte dela vem de outros registros similares, também orientados pela mesma mistura contraditória entre melodias sombria e sons ensolarados. Não são poucos os momentos no decorrer da obra em que os suecos se mantém íntimos de uma mesma proposta musical que banha a discografia do The Radio Dept, conterrâneos do grupo. Em Evil Coast, por exemplo, fica mais do que clara a série de características que acompanham o quarteto. O mesmo tipo de som que une My Bloody Valentine e Cocteau Twins em uma proposta jovial nas faixas do grupo vizinho, e aqui proporcionam delineamento adequado para Blues, Years, Evil Coast e demais composições espalhadas pelo disco.

O encaminhamento litorâneo pode até proporcionar novidade ao trabalho da banda sueca, entretanto, mesmo imerso em pequenas transformações é na calmaria típica dos discos anteriores que ele acerta. Tanto a delicada Years como a dolorosa How It All Ends parecem voltadas aos realces típicos da década de 1980, marca nítida nos álbuns passados. A diferença está no completo abandono dos sons exageradamente sombrios que a banda insistia em navegar, uma proposta que até conseguiu atrair na complexidade de The Laughter, mas aos poucos perdeu sua beleza.

De razões previsíveis e sons que parecem longe de alcançar um possível ápice, Hit The Wave só parece ganhar ritmo quando atinge a segunda metade da canções. Se por um lado a sombria Black Sunset firma uma constante relação com os álbuns que antecedem o novo disco, as batidas levemente aceleradas aquecem o que posteriormente resulta na boa condução de Can’t Stop The Aching e Unblessed. Superior ao trabalho de 2009, o novo álbum parece se relacionar diretamente com o primeiro disco da banda, entretanto, substituindo as melodias dolorosas e o clima noturno por um regresso natural. Uma espécie de volta no tempo involuntária, como se a noite se extinguisse momentaneamente para lembrar do pôr do sol.

 

The Mary Onettes

Hit The Waves (2013, Labrador)


Nota: 7.0
Para quem gosta de: The Radio Dept., Sambassadeur e Beach Fossils
Ouça: Evil Coast

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.