Disco: “Holy Fire”, Foals

/ Por: Cleber Facchi 01/02/2013

Foals
British/Indie Rock/Alternative
http://www.foals.co.uk/

Por: Cleber Facchi

Foals

A transposição das guitarras experimentais de Antidotes para o ambiente claustrofóbico de Total Life Forever teve um importante papel na atuação e consequente transformação do Foals. Misto de Math Rock e Pós-Punk, o disco lançado em maio de 2010 serviu para livrar a banda da tentativa falha em se revestir com uma tapeçaria conceitual, possibilitando ainda uma maior aproximação com o grande público, visto a carga de hits espalhados pela obra. É no mínimo curioso perceber que passada a boa condução da banda, uma sequência de artistas conterrâneos trataram de absorver aspectos bastante similares aos incorporados pelo grupo, marcas quase plagiadas e que praticamente decidem os rumos de Alt-J (∆), Everything Everything, Egyptian Hip Hop e tantos outros que surgiram posteriomente.

Por se tratar de uma banda naturalmente inclinada ao invento, com a chegada de Holy Fire (2013, Transgressive) o grupo mais uma vez parte em busca da transformação. Longe do clima soturno que alimentava cada bloco instrumental do trabalho passado, e sem a mínima aproximação com o despojo cru da experimentação lançada em 2008, Yannis Philippakis e os parceiros usam do novo disco para dançar. Leve, ainda que maduro, cativante, mesmo consolidando referências que escapam do óbvio, o registro de 11 faixas se orienta como um olhar delicado para a sonoridade final da década de 1970, estabelecendo uma conexão com as pistas de dança do passado e do presente.

Mesmo que a explosão previamente anunciada em Inhaler identifique um cenário de possíveis transformações (e maior raiva) na proposta da banda, Holy Fire é um disco que se orienta pela partitura jovial de My Number. Carregada pelo ritmo descompromissado, acertos inspirados abertamente no Dance Punk e uma natureza instrumental que se divide entre a aceleração do Gang Of Four e os experimentos do Talking Heads, a canção puxa de maneira adulta o disco para um plano que se ausenta de boa parte das experiências de outrora. As melodias experimentais de Antidotes ainda estão por toda a parte, o mesmo acontece com a atmosfera densa do último álbum, a diferença está na forma como o ritmo convence a banda (e o público) a dançar.


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Trabalhada como um aquecimento para o restante do disco, Prelude até estimula o caráter grandioso que se esconde ao fundo do álbum, entretanto, contrariando o que outros artigos já insistem em afirmar, Holy Fire está longe de ser o registro mais completo do grupo ou uma provável “obra-prima”. Pelo contrário, trata-se de um disco que brinca abertamente com as composições comerciais de maneira individual, sem qualquer pensamento ou amarra sonora que parta de um conceito maior ou que conecte todas as canções. É apenas um disco entregue à leveza, ao compromisso com a dança e a prática bem elaborada dos ritmos. Se analisarmos, o próprio Total Life Forever parece ser um trabalho muito mais experimental e aventureiro que o presente disco, algo que de forma alguma prejudica a boa forma da banda.

Com uma estrutura orientada de maneira crescente até o começo da segunda metade da obra, o disco possibilita ao grupo se revezar em uma sequência bem produzida de acordes cíclicos. Pequenas progressões musicais iniciadas ao longo do primeiro álbum e que se estabelecem de forma dançante e menos hermética pelo novo disco. Contudo, é preciso ressaltar que mesmo o interesse por um som que se aproxime das pistas, em nenhum momento a banda inviabiliza a construção de passeios soturnos como os do projeto anterior. Caso de Late Night (uma das melhores do trabalho),  da climática Moon, ou de Milk & Black Spiders, faixas que aperfeiçoam de maneira natural e particular muito do que foi conquistado há três anos.

Tal qual o registro que o precede, Holy Fire é um trabalho de efeito tardio e absorção que precisa ser feita de maneira ponderada, quase em doses. Cada faixa esconde texturas, vozes, batidas e mínimas frequências acústicas que talvez só apresentem real efeito em uma audição cuidadosa ou talvez em um futuro próximo. O processo detalhista de escuta, entretanto, não inviabiliza uma apreciação coesa no presente, afinal, mesmo escondendo boa parte do ouro em sobreposições constantes, o disco revela em uma camada superficial matéria suficiente para transformar o Foals na maior banda dentro da fase e do gênero em que está inserida.

Holy Fire

Holy Fire (2013, Transgressive)

Nota: 7.8
Para quem gosta de: Everything Everything, Egyptian Hip Hop e Wild Beasts
Ouça: Milk & Black Spiders, Inhaler e Late Night

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.