Disco: “Homem Figa Vol.1”, Terra Preta

/ Por: Cleber Facchi 20/11/2012

Terra Preta
Brazilian/R&B/Hip-Hop
http://terrapretafiga.com/

Por: Cleber Facchi

Com a retomada do R&B no panorama estadunidense era esperado que algum artista brasileiro que fosse capaz de assumir a mesma lacuna há anos estabelecida por aqui. Desde o fim da década de 1990 esquecido dentro dos trabalhos da dupla Claudinho e Buchecha – ou de maneira ainda mais “pop” nos registros das irmãs Pepê e Neném -, o Rythm & Blues ganhou sobrevida nos recentes lançamentos do rapper Emicida, proposta rusticamente apropriada nos instantes mais românticos e amenos do álbum Emicídio (2010). Já quem esperou até agora encontrará no mais novo registro do rapper Terra Preta não apenas um disco que compactua coerente com tudo que ecoa lá fora, mas um tratado particular e íntimo de nossa própria sonoridade.

Primeiro grande exemplar do rapper paulistano (nascido Arithon Felipe), Homem Figa Vol. 1 (2012, Quebrando) concentra tudo que fora produzido nos últimos anos, expandindo de forma comercial e madura aquilo que circula no interior de cada EP, single ou mixtape previamente trabalhada pelo artista. Íntimo das batidas crescentes de Thank Me Later (2010), estreia do canadense Drake, capaz de incorporar a mesma tonalidade romântico-melancólica que circula pelos trabalhos de Abel Tesfaye (The Weeknd), Terra Preta se esquiva dos versos em inglês falando sobre amor, sofrimento e casos cotidianos em claro e acessível português.

De cara Homem Figa chama atenção pela produção bem caprichada que decide os rumos de cada composição. Longe dos realces artesanais que definem boa parte dos projetos relacionados ao rap independente nacional, o álbum cresce límpido, melódico e sob forte apelo comercial. Se por um lado as letras bem tramadas de Felipe ocupam cada espaço dos ouvidos, por outro a produção assumida por Dj Lx e Léo Grijó (da dupla Stereodubs) faz com que toda música cresça de maneira volumosa, rompendo com os limites sempre lânguidos do gênero, absorvendo o que há de mais criativo no Pop, até se converter em um produto sonoro de qualidade e beleza inquestionável.

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Sem dever em nenhum instante ao que é produzido por veteranos como Usher ou quem sabe em relação aos também novatos Miguel e Frank Ocean, Terra Preta percorre uma seleção de faixas essencialmente radiofônicas e honestas, prova de que é possível soar comercial sem promover um registro de soluções descartáveis e óbvias. Parte desse esforço parece vir de maneira natural dos holofotes voltados ao artista no ano de 2008, quando venceu a hoje distante edição do programa Ídolos – ainda exibida pelo SBT. Dentro dessa proposta, tanto Felipe como a dupla de produtores que o cercam se ocupam em cobrir cada lacuna do trabalho, resultando na criação do um projeto amplo e inteiramente atrativo.

Recheado da abertura ao fecho por criações densas e sensivelmente melancólicas, Terra Preta divide o trabalho em dois grupos bem definidos de composições. O primeiro se concentra em cima de faixas rimadas, músicas como Jogue A Primeira Pedra (que discute a prostituição), evidenciando a face “rapper” do compositor. Já o segundo grupo de músicas, traz Felipe apostando no lado cantor da obra, solidificando a criação de achados como Me Mostre Um Pouco De Amor e principalmente a dolorosa Não Chore. Essa proposta dupla acaba por aproximar o paulistano de tudo que ecoa de mais convencional em um típico lançamento do gênero, afinal, o que é o trabalho de nomes como Usher, Drake ou Frank Ocean se não uma constante divisão entre as rimas e o canto lânguido?

Assumindo uma proposta distante do que atualmente chama as atenções dentro do hip-hop nacional, Terra Preta se apresenta como figura de produção e rimas únicas, além de apontar o caminho para que outros jovens rappers encontrem sustento na mesma proposta e sonoridade. Embora peça por sorte no título do trabalho, o rapper parece longe de realmente depender de tal artifício. Dono de um resultado convincente e que se apresenta grandioso logo nos instantes iniciais, quanto mais mergulhamos na construção sombria de Homem Figa Vol.1, mais percebemos o quanto o rapper parece pronto, dono de talento raro e capaz de pisar com firmeza onde poucos se interessam em arriscar.

Homem Figa Vol.1 (2012, Quebrando)

Nota: 8.6
Para quem gosta de: Emicida, Projota e Criolo
Ouça: Me Mostre um pouco de amor, Não Chore e Jogue A Primeira Pedra

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.