Disco: “Homens Lentos”, A Fase Rosa

/ Por: Cleber Facchi 15/03/2013

A Fase Rosa
Brazilian/Indie/Alternative
http://www.afaserosa.com.br/

 

Por: Allan Assis

A Fase Rosa

O artista espanhol Pablo Picasso passou por inúmeras fases que acabaram por diferenciar sua vasta produção. Uma das mais proeminentes é a “fase rosa”, período caracterizado pelo uso de cores mais quentes em suas telas, inspirado por sua musa na época, Fernande Olivier. Mirando alto nas referências, o quarteto mineiro do A Fase Rosa retira do genial pintor e escultor a essência de seu motor criativo, trocando as cores por acordes, criam uma sonoridade alegre e carnavalesca, capaz de beber nas mais diversas fontes – do samba à brasilidade do tropicalismo. Engatinhando no cenário artístico, reaparecem agora após O Arquiteto e o Carnaval (2011) e 2 (2012), EPs que continham algumas das ideias que agora saltam aos ouvidos no primeiro disco completo do grupo, Homens Lentos (2013, Independente), uma reafirmação da miscelânea de gostos que fazem a cabeça de seus integrantes.

Abre o disco Lourdes e Leblon, carnaval de rua lotado de guitarras usadas originalmente em axés baianos, lembrando imediatamente Rodrigo Campos e seu Bahia Fantástica (2011). Guitarras de gingas miúdas, quase escondidas, fazem as vezes de cavaquinho no samba O jogo, sensual faixa que reverencia os cariocas do Los Hermanos e seu Morena, aqui quem brilha é a cuidadosa percussão de ritmo bem ditado, à la Novos Baianos.

Desmancha rouba do Recife o manguebeat e as guitarradas que apontam para referências mais ao norte, como o carimbó. Pronta para levar o ouvinte a pular em cada virada de latas e baterias, a faixa ainda evolui para uma segunda camada mais ao final: turva e pessimista transformando-se aos poucos em psicodelia. Outra que impõem mudança a si mesma é Levantado. Iniciada em clima de celebração e marchinha, a faixa se entrega a um baixo obscuro e à menor distração a música vira um jazz com veia samba-rock. Tanta Flor também é dançante e flerta até com lambada sem se abrir de todo ao gênero.

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Pinceladas de um azul melancólico também têm lugar em Homens Lentos, prováveis resquícios do EP 2, de estética introspectiva e que mantinha a equação alegria e tristeza no meio a meio. Com o pé nessa sonoridade surge O Arquiteto e o Carnaval, faixa com a melhor letra do registro, composta pelo vocalista Thales Silva, fala do deslumbramento diante da cidade que não para; tudo engole em suas “avenidas vazias, largas cheias de concreto e nada mais”, não deixando tempo para minúcias e delicadezas como “A fita na sala”. A insensibilidade do excludente mundo contemporâneo, aliás, é o principal tema do álbum. Homens Lentos, é um conceito assinado pelo geógrafo Milton Santos, usado para se referir à pessoas deixadas de fora da globalização por suas condições sociais.

Os EPs anteriores, apesar de já possuírem a instrumentação de origem diversa, deixavam vazar faces tristes e contemplativas de um amor que muitos outros artistas da MPB já colocam em pedestais. Em canções como Filhos do Tempo e Instante Eterno,  são nítidos os momentos e as referências que já se ouviram semelhantes nas canções de Fabio Góes e dos também mineiros do Transmissor. A própria capa de A Fase Rosa, em verde musgo, mostrava que a banda ainda estava por se achar em meio as muitas possibilidades apresentadas. Com o debut saem da prateleira indie de letras melancólicas para figurar com maior originalidade em um terreno pouco explorado.

A indecisão parece ter fim em Homens Lentos. Musicalmente o quarteto escolhe um lado e pode-se dizer que este não poderia ser melhor: instrumentação escrachada, mas sem exageros, de dar calor e fazer ombros balançarem involuntariamente. Vai ter quem diga que o álbum abraça conceitos e sonoridades distintas demais, o que em muitos casos, denota falta de identidade. Um movimento político de agradar muita gente, dado a zilhões de acordes diferentes que não convencem. O caso não é esse, felizmente, A fase Rosa apresenta um debut diverso em propostas, mas todas muito bem trabalhadas com começo, meio e fim. Um vento quente que dá uma volta no nordeste, mas nasce em minas.

 

A Fase Rosa

Homens Lentos (2013, Independente)

Nota: 7.8
Pra quem gosta de: Los Hermanos, Rodrigo Campos e Transmissor
Ouça: Arquiteto e o Carnaval, O jogo

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.