Disco: “Honest”, Future

/ Por: Cleber Facchi 24/04/2014

Future
Hip-Hop/Rap/R&B
http://www.futurefreebandz.com/

Por: Cleber Facchi

Até o lançamento de Pluto, em 2012, Future parecia atuar apenas como um coadjuvante dentro da presente safra do rap estadunidense. Autor de um cardápio bem servido de Mixtapes, singles e faixas em colaboração com nomes de peso do Hip-Hop (Lil Wayne) e até da música pop (Miley Cyrus), o artista de Atlanta, Geórgia transformou o bem recebido debut em algo mais do que um mero cartão de visita. Passagem direta para um lugar de destaque dentro do panorama “alternativo”, ou mesmo além dele, Future usa do disco como uma ponte para Honest (2014, Epic/A1/Free Bandz), segundo registro solo e sua verdadeira obra de apresentação.

Em um exercício explícito de continuação aos inventos lançados há dois anos, porém, em busca de construir um cenário particular, cada segundo do registro se organiza dentro de faixas grandiosas, orquestradas para quase tirar o fôlego do espectador. Ainda que a fluidez ascendente, quase épica por vezes, não esbarre no mesmo ambiente de exageros conceituais de Yeezus (2013), último álbum de Kanye West, seja ao falar de amor (I Be U), ou brincar com as experiências lisérgicas (Move That Dope), Future trilha um cenário de grandezas e pequenas vitórias particulares.

Alavancado pela segurança de Look Ahead, música capaz de resgatar a essência do clássico My Beautiful Dark Twisted Fantasy (2010) – resultado das vozes que emulam Power -, Honest é o passo confesso de Future rumo ao topo. Brincando com tendências que vão do canadense Drake (Covered n Money), ao novato Frank Ocean (na faixa-título), cada instante da obra observa as experiências alheias sem fugir da identidade do rapper – já evidente desde os primeiros singles. Vocais manipulados pelo autotune, batidas densas e versos sujos, tudo aquilo que Pluto, F.B.G. (2013) e qualquer obra anterior do rapper já havia identificado, mas que o presente disco reforça com presença.

Acompanhado de perto por outros artistas em grande parte das canções, Future usa da comunicação com nomes de peso do Hip-Hop em um efeito similar ao trabalho de Pusha T em My Name Is My Name (2013). Também colaborador de uma série de projetos, o integrante do Clipse fez da inclusão de gigantes do gênero um reforço para si próprio ao mergulhar em carreira solo, algo como “ele quem é o cara por trás daquela música que você tanto gosta“. Não por acaso Wiz Khalifa (My Momma), Andre 3000 (Benz Friendz), Kanye West (I Won) e o próprio Pusha T (Move That Dope) atuam de forma secundária no decorrer de Honest. Aqui, todos os holofotes apontam para Future.

De fato, cabe ao próprio “dono” da obra os instantes de maior grandeza e verdadeiro acerto no decorrer do registro. Enquanto a dobradinha inicial, Look Ahead e T-Shirt, resume e dá continuidade ao tratamento proposto no último disco, a canção-título reforça o lado mais introspectivo de Future. “Seu espírito e meu espírito iluminam através de nossos corpos/ Sinto que estamos completos“, derrama o artista na também melancólica I Be U, faixa que usa do próprio recolhimento como uma ferramenta de respiro aos excessos e emanações grandiosas que ocupam todo o registro. Sobram ainda faixas como Covered N Money e Blood, Sweat, Tears, divisões exatas dos exageros e do lado “humano” do rapper.

Como se fizesse valer todos os aspectos do disco, o título de “Honest” representa tudo que se esconde/é revelado pelo artista ao longo da obra. Estão lá versos sofredores (I Be U), sujos (Never Satisfied) e perturbados (Move That Dope), representações naturalmente instáveis do universo de Future, que antes mesmo do fim da obra (e ao lado do Kanye West), faz muito bem em proclamar: “eu ganhei/ eu ganhei o meu troféu“.

 

Future

Honest (2014, Epic/A1/Free Bandz)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Kanye West, Pusha T e Drake
Ouça: Move That Dope, I Won e Covered N Money

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.