Disco: “Hour of the Dawn”, La Sera

/ Por: Cleber Facchi 29/05/2014

La Sera
Indie Rock/Lo-Fi/Female Vocalists
https://www.facebook.com/laseramusic

Por: Cleber Facchi

La Sera

Desde que estreou em carreira solo com o La Sera, Katy Goodman parecia seguir uma direção contrária ao som explorado no Vivian Girls, sua outra banda. Seja no autointitulado debut de 2011 ou no semi-etéreo Sees the Light, de 2012, o interesse da cantora sempre foi a de preencher as lacunas estéticas do projeto paralelo, convertendo o Garage Punk habitual em uma passagem ensolarada para o Dream Pop. Porém, com o fim das atividades do Vivian Girls no começo de janeiro, esta suposta ordem parece ter alterado completamente os rumos da artista.

Ao alcançar o terceiro álbum em carreira solo, Hour of the Dawn (2014, Hardly Art), Goodman não apenas pula as experiências instrumentais dos dois primeiros discos, como resgata boa parte da essência de falecida banda. Em um sentido de adaptação dos conceitos lançados com Share the Joy (2011), último registro do trio nova-iorquino, a presente obra mergulha de cabeça no Garage Rock, preferência que garante movimento e certa dose de “crueza” ao trabalho solo da cantora.

Sem perder a atmosfera “californiana” do La Sera, Katy distribui acordes simples e urbanos, guiando o ouvinte por um cenário tão íntimo da década de 1960, quanto da cena atual. Lembrou de Best Coast, Dum Dum Girls ou qualquer outra banda partidária dos mesmos conceitos? Você não está errado. Basta a inaugural Losing To The Dark para perceber que a busca de Goodman está encaixada exatamente por esse tipo de sonoridade. Músicas para ouvir em um fim de tarde, à beira mar ou bebendo com os amigos em uma noite de verão.

Longe de ecoar como um álbum transformador dentro desse universo aproximado de outros artistas, Hour of the Dawn é apenas uma forma de ruptura particular, limitada apenas aos inventos em carreira solo de Goodman. Se levarmos em conta o detalhamento Lo-Fi dos dois primeiros discos, nada disso parece ter sobrevivido no decorrer do novo disco, estrutura que se revela como um natural acerto para o La Sera. Essencialmente detalhista – ouça 10 Headed Goat Wizard -, Goodman parece ter encontrado sua melhor forma – seja dentro de uma estrutura particular, ou em proximidade aos trabalhos do Vivian Girls.

De todas as alterações do álbum em relação aos antecessores, a ausência de timidez talvez seja a mais gratificante. É difícil não ser motivado pela atmosfera grandiosa de músicas como Kiss This Town Away, faixa em que a artista ainda se revela capaz abraçar o lado mais entusiasmado dos anos 1980. O mesmo efeito parece instalado nas crescentes Control e Summer Of Love, músicas que dançam pelo rock de diferentes gerações sem fugir do ambiente natural da musicista. Solos intensos, coros de vozes e letras que mesmo deprimentes forçam o sorriso: Katy Goodman sabe como enfeitiçar o ouvinte.

Ponto alto de uma sequência de obras guiadas pelo mesmo espírito – vide os novos do Dum Dum Girls e Eternal Summers -, Hour of the Dawn consegue ir um pouco além ao reforçar ainda mais esse caráter “dinâmico” dos arranjos. Não existe nada aqui que Cape Dore (2011) do Tennis ou Crazy For You (2010) do Best Coast já não tenham revelado antes, entretanto, embarcar nas pequenas repetições do La Sera é um exercício necessário.

La Sera

Hour of the Dawn (2014, Hardly Art)

Nota: 7.3
Para quem gosta de: Best Coast, Tennis e Dum Dum Girls
Ouça: Kiss This Town Away, Control e Summer Of Love

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.