Disco: “How To Run Away”, Slow Magic

/ Por: Cleber Facchi 11/09/2014

Slow Magic
Chillwave/Electronic/Synthpop
http://slowmagic.bandcamp.com/

Por: Cleber Facchi

Um dos aspectos mais sublimes na obra de Hayao Miyazaki não está no roteiro delicado ou mesmo nos cenários fantásticos produzidos a cada película, mas nos personagens que o diretor utiliza como ponte para esse universo mágico. Seja o gigante Totoro no filme de 1988, os diferentes espíritos na trama de Princesa Mononoke (1998) ou mesmo o jovem Haku em A Viagem de Chihiro (2002), há sempre uma criatura/estopim que aos poucos afasta a mente do espectador da realidade, convidado a experimentar o novo plano de cores, cenários e sensações detalhadas em cada história.

Ainda que atuante em um ambiente específico – o da música -, não é difícil perceber no novo álbum do californiano Slow Magic a mesma atmosfera fantástica que toma conta da poesia visual de Miyazaki. Mágico personagem da própria obra, o produtor mascarado é o grande responsável por apresentar ao público – representado pelos jovens na capa do álbum – o panorama delicado que se apodera de How To Run Awaym (2014, Downtown), segundo e mais recente obra de estúdio.

Coleção de temas limpos e essencialmente melódicos, o presente álbum é um passo além em relação ao que Magic já havia testado com acerto no disco anterior, Triangle, de 2012. Trata-se de uma interpretação menos “artesanal” da Chillwave que ocupou grande parte da Costa Oeste dos Estados Unidos no final da década passada, experiência agora detalhada no uso atento dos sintetizadores – a principal ferramenta de trabalho para a obra. Todavia, mais do que um projeto orientado por novas imposições técnicas/estéticas, How To Run Away é um desenvolvido para brincar com as sensações do ouvinte.

Da imagem fantasiosa que estampa a capa do disco – o “personagem” de Slow Magic -, ao conjunto de harmonias detalhadas em cada faixa, por onde passa o ouvinte é arrastado para um novo campo de experiências oníricas. Em uma estrutura musical progressiva (e mística), o produtor detalha pequenas referências, sobrepõem instrumentos e brinca com a voz em uma captação carregada de eco. Assim como nas histórias de Hayao Miyazaki, Magic está longe de fornecer as respostas ao público, pelo contrário, parece se divertir com as diferentes interpretações lançadas em cada música.

Mesmo embalado por uma estrutura subjetiva, o produtor em nenhum instante deixa de presentear o público faixas puramente comercias. De fato, quando comparado ao disco de 2012, o presente álbum cresce como um verdadeiro catálogo de músicas pegajosas, prontas para colar nos ouvidos do espectador. São canções abastecidas pela melancolia do R&B, como Waited 4 U e Hold Still, faixas que curiosamente parecem instaladas no mesmo universo de Giraffage (parceiro do produtor) no álbum Needs (2013). Sobram ainda faixas “solares” como Youth Group e Bear Dance, representações inevitáveis de como seria o trabalho do Passion Pit sem as vozes/versos de Michael Angelakos.

De fluidez pop, How To Run Away talvez seja o trabalho mais atrativo da presente safra de discos lançados em solo californiano. Uma ponte não apenas para o cenário dominado por Nosaj Thing, Giraffage e tantos outros artistas próximos, como XXYYXX, mas também para o universo em expansão do próprio Slow Magic.

 

How To Run Away (2014, Downtown)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Giraffage, Passion Pit e XXYYXX
Ouça: Waited 4 U, Girls e Youth Group

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.