Disco: “Humor Risk”, Cass McCombs

/ Por: Cleber Facchi 03/11/2011

Cass McCombs
Indie/Singer-Songwriter/Folk
http://www.myspace.com/cassmccombs

 

Cass McCombs é um romântico, talvez o maior que já passou pelo recente cenário musical. Dividido entre a melancolia Lo-Fi do clássico Catacombs de 2009 e as exaltações sofridas do recente Wit’s End, o músico californiano surge agora com seu novo compendio de lamentos musicados e amores que não deram certo: Humor Risk. Menos soturno que seu anterior e ainda fresco lançamento, o registro de oito faixas reforça mais uma vez a boa fase do compositor, que nos presenteia com mais uma soma de canções amarguradas e uma sonoridade simplista, porém inebriante.

Satisfatório em toda sua extensão, o álbum vai aos poucos revelando um jogo de composições que se manifestam como uma grande colagem musical, faixas que parecem passear por toda a discografia do músico – iniciada com o disco A de 2003 – e que estabelecem um ponto de encontro através do presente trabalho. Vagando entre suaves exaltações ao rock alternativo e sorumbáticas doses de uma música folk ruidosa, McCombs transforma seu pequeno concentrado de canções em uma rara coleção de versos sinceros, mesmo carregados de pesar e lamentações.

Logo na abertura do trabalho o californiano demonstra todo seu potencial através da proposta honesta (ou irônica) de Love Thine Enemy, faixa que desenvolve uma espécie de ligação com o Wilco pós-Yankee Hotel Foxtrot e que introduz de forma primorosa o trabalho do artista aos que ainda desconhecem sua obra. Se as guitarras quase ensolaradas da faixa abrem o que seria um caminho distinto dentro da obra de McCombs, então a canção seguinte, The Living Word, puxa o espectador para dentro do tradicional jogo de sons e versos que caracterizam a carreira do músico.

Assim como em seus anteriores trabalhos, o compositor parece alcançar seus melhores momentos quando investe em composições mais extensas, músicas que possibilitam o explorar de uma sonoridade melhor diluída, assim como versos carregados de dor e beleza. Mystery Mail, por exemplo, converte seus quase oito minutos de duração em uma somatória de guitarras projetadas de forma crescente, repassando uma estranha proximidade com o trabalho de Bruce Springsteen, embora uma fina camada instrumental o aproxime do rock alternativo dos anos 90.

Mais uma vez acompanhado do produtor Ariel Rechtshaid – que desde 2009 vem colaborando com o cantor em seus trabalhos -, McCombs opta (felizmente) por não apoiar o trabalho dentro de uma fórmula única e imutável, transformando o registro em um trabalho variado e que se configura a cada nova composição. Se em The Same Thing temos o explorar da tonalidade acústica e quase intimista do músico, com To Every Man His Chimera (a melhor do álbum) somos afundados em um oceano de melancolias sem limites, algo que se reconfigura por completo na faixa seguinte, Robin Egg Blue.

Mesmo que não consiga superar a beleza e a grandiosidade das duas últimas obras de McCombs, o disco mantém uma fluidez agradável, além de mais um bem desenvolto conjunto de memoráveis composições. Possivelmente o trabalho mais fácil e radiofônico do músico até agora, Humor Risk abre as portas para que um novo público se aproxime do trabalho do californiano, que mais uma vez presenteia seu público ou os não iniciados em sua arte com mais uma formidável sequência de composições.

 

Humor Risk (2011, Domino)

 

Nota: 7.8
Para quem gosta de: Bill Callahan, Kurt Ville e Julian Lynch
Ouça: To Every Man His Chimera

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.