Disco: “Hyperdub 10.1”, Vários Artistas

/ Por: Cleber Facchi 26/05/2014

Vários Artistas
Electronic/Experimental/Dubstep
http://www.hyperdub.net/

Por: Cleber Facchi

DJ Rashad

Com tantos registros de peso apresentados só no último ano, é  curioso pensar que o britânico Hyperdub tenha completado apenas uma década de atuação. Lançado oficialmente por Steve Goodman (Kode9) em meados de 2004, o coletivo já serviu (e ainda serve) de morada para um time transformador da cena recente. Nomes tão opositivos conceitualmente – como Burial, Fatima Al Qadiri, Laurel Halo e Cooly G – que classificar o projeto apenas como um selo de “dubstep” seria um erro enorme. Porém, seguindo a linha do pontual 5: Five Years of Hyperdub, de 2009, em Hyperdub 10.1, Goodman e os parceiros voltam a reforçar a pluralidade da marca, trazendo em três dezenas de canções um pouco da versatilidade que define a presente fase da gravadora, mas sem fugir da própria essência.

Guiado por uma imposição experimental, mas ainda assim íntima dos primeiros anos do selo, a extensa coletânea é uma representação de tudo o que o Hyperdub e seu time (crescente) de artistas vêm desenvolvendo ao longo da última meia década. De veteranos como Mark Pritchard (Africa Hitech) e Kode9, ao trabalho de novatos como Ikonika, Kuedo e DVA, cada instante do registro se acomoda em referências tão íntimas do 2-Step, quanto do R&B, Grime, Garage, pós-Dubstep e qualquer outro estilo utilizado para sustentar a produção britânica recente.

Em um sentido progressivo de experimento e agrupando de forma homogênea a sonoridade de cada grupo de artistas, a coletânea é dividida de forma atmosférica (e comercial) em duas metades bem definidas. A primeira parte vai de Mad Hatter, do ainda iniciante DVA, até a chegada de Hanabi, faixa assinada pelo “dubstep em 8bit” do japonês Quarta 330. Já a segunda metade tem início na soturna colaboração entre Burial e Spaceape, pontuando a obra de forma assertiva com Let It Go, uma das últimas composições lançadas pelo norte-americano DJ Rashad – morto em decorrência de uma overdose no final de abril.

Cooly G

Tendo nas batidas densas de Mtzpn (Kuedo) e I’m Gonna Get You (Dj Earl) uma explícita comunicação com os primeiros anos do selo, Hyperdub 10.1 usa da primeira metade como uma obra transformadora e a mesmo tempo nostálgica. São samples matemáticos de Hip-Hop, Reggae e R&B transportados para o conceito urbano das batidas e bases do UK Garage – tratamento assertivo na formação das densas Kaytsu e Girl U so Strong. Como uma ponte para o começo do selo, as composições se movimentam dentro de uma atmosfera de plena relação, como se cada faixa fosse a chave para o que é solucionado em totalidade na composição seguinte. Um passo entre o passado e o presente, mas que em nenhum momento quebra o que parece ser grande alicerce do álbum: a dança.

Sem o mesmo comprometimento estético, o “disco 2” usa da ruptura como um estímulo natural para a formação das músicas. Expostas de forma desarticulada, as canções colidem, fundem experiências e servem de passagem para a marca do selo nos últimos cinco anos. Mesmo o caráter torto de faixas como Wind It Up e Hookid não escondem o aspecto mais “comercial” de algumas canções. É o caso de Hurricane Riddim, de Funkystepz, e Bowsers Castle, faixas que bem poderiam ser aproveitadas por Dizzee Rascal ou qualquer outro nome de peso do Hip-Hop britânico.

Ainda que livre de nomes importantes relacionados ao crescimento recente do selo – caso de Dean Blunt, Laurel Halo, Jessy Lanza e Fatima Al Qadiri, reservados para a segunda parte do especial -, Hyperdub 10.1 traduz com acerto o passado e o presente do gênero que apresentou e ainda sustenta a marca – o dubstep. Com mais de duas horas de duração, o disco mostra que o esforço de Steve Goodman em produzir um universo (musical) próprio se faz evidente, proposta que encontra a dança (Hurricane Riddim), flerta com arranjos climáticos (Spaceape) e continua a provocar com a mesma intensidade que em 2004.

 

Hyperdub

Hyperdub 10.1 (2014, Hperdub)

Nota: 8.3
Para quem gosta de: Africa Hitech, Burial e Kode9
Ouça: I’m Gonna Get You, Let It Go e It’s Serious

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.