Disco: “I Love You, It’s Cool”, Bear In Heaven

/ Por: Cleber Facchi 22/03/2012

Bear In Heaven
Experimental/Indie/Post-Rock
http://bearinheaven.com/

Por: Fernanda Blammer

Assim como grande parte das bandas e projetos criados na última década, o trio nova-iorquino Bear in Heaven só alcançou o distinto resultado que apresenta hoje em vista de uma série de experiências e um variado jogo de referências acumuladas. Passeando pelas mais diversificadas escolas musicais formadas ao longo das últimas décadas, a tríade montada em 2003 na região do Brooklyn está longe de propor um trabalho genuíno ou dotado de pura originalidade. Entretanto, ao amarrar fórmulas vindas dos mais estranhos campos musicais, o grupo encabeçado por Jon Philpot alcança uma medida particular, um resultado “copioso”, mas que acaba soando como verdadeiramente próprio da banda quanto mais mergulhamos nele.

Mesmo vindos de uma longa carreira e diversos shows por alguns dos mais cultuados festivais norte-americanos, o reconhecimento só chegou para o grupo em 2009, quando as estranhas formas do álbum Beast Rest Forth Mouth foram finalmente assimiladas, não totalmente pelo público, mas principalmente pela mídia. Em meio a referências diretas ao movimento Krautrock, doses imoderadas de psicodelia, acertos com a música eletrônica residia a estrutura necessária para que faixas como You Do You e Lovesick Teenagers pudessem se manifestar. Músicas que parecem ganhar um conjunto de composições irmãs com o lançamento de I Love You, It’s Cool (2012, Hometapes) segundo e também vasto projeto da banda.

Com um pé muito mais fincado no plano etéreo e na psicodelia, o disco possibilita que aos poucos o grupo abandone a conexão com o passado e as inspirações que os cercam, desenvolvendo finalmente um som tomado de forças originais e referências próprias. Além da busca constante por um espaço merecido dentro da cena vigente – há quem ainda os considere uma cria do Animal Collective -, vê-se o constante esforço de Philpot e dos parceiros Adam Wills e Joe Stickney em desenvolver um trabalho que melhor se aproxime do público, feito que o conjunto de composições melódicas e mais atrativas logo na abertura do novo álbum tendem a justificar.

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=tjW5rkXiQdc?rol=0]

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=GJ7j_mazeB0?rol=0]

Oposto do último disco, que prendia pela complexidade das formas, em I Love You, It’s Cool o que atrai é o encanto e a forma como as harmonias vão se acumulando na mente e nos ouvidos do espectador. A tríade de abertura composta por Idle Heart, The Reflection of You e Noon Moon parece planejada para atrair os mais distintos públicos, principalmente os não iniciados na arte dos experimentos e compostos musicais excêntricos. Em poucos minutos os teclados mágicos, guitarras que se derretem e os versos fáceis das faixas tomam as atenções, prendendo de maneira consistente o ouvinte e preparando-o para a sucessão de experimentos levemente complexos que chegam logo em seguida.

Com as atenções focadas no trabalho, a partir da quarta faixa, Sinful Nature, a banda começa de fato mostrar a que veio, criando um forte vínculo com o disco anterior e se aprofundando na construção de músicas muito mais detalhistas e complexas. Cool Light, por exemplo, absorve a sonoridade obscura dos anos 1980 de forma particular, diferente de Space Remains, que modifica suas estruturas a cada instante, ora tocando o Drone sintetizado que o Fuck Buttons alcançou no último disco, ora dissecando as experiências ambientais que o M83 aprimorou no último trabalho.

Por mais acessível e “comercial” que esteja I Love You, It’s Cool, assim como em qualquer outro álbum proposto pelo Bear In Heaven, as músicas presentes no disco parecem funcionar a um tempo próprio. Não espere ser fisgado pelo disco logo de cara (por mais inclinado que ele esteja para isso) ou que todo o acumulado de referências presentes no disco lhe garantam algum sentido já nos instantes iniciais. Mesmo as mais fáceis criações do álbum parecem se modificar e ganhar novo sentido a cada instante, uma resposta natural ao fato de que o disco carece de tempo para ser compreendido como todo, revelando de maneira lenta, porém surpreendente, toda sua natureza.

I Love You, It’s Cool (2012, Hometapes)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: The Antlers, Animal Collective e Here We Go Magic
Ouça: Idle Heart, The Reflection e Space Remains

[soundcloud url=”http://api.soundcloud.com/tracks/33176100″ iframe=”true” /]

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.