Disco: “I Never Learn”, Lykke Li

/ Por: Cleber Facchi 06/05/2014

Lykke Li
Indie Pop/Alternative/Female Vocalists
http://www.lykkeli.com/

Lykke Li

A tristeza é uma benção“, disse Lykke Li em uma das faixas mais dolorosas e honestas de Wounded Rhymes, segundo trabalho em estúdio da cantora sueca e registro apresentado há três anos. Se observarmos o teor amargo que define a estética de I Never Learn (2014, LL), mais recente lançamento da artista, pouco parece ter se transformado dentro do universo particular de Li. Pelo contrário, em um sentido de explícita continuação ao trabalho alavancado em Youth Novels, de 2008, o novo disco revela a completa entrega de sua autora, cada vez mais interessada na fórmula dolorosa das canções de separação e mergulhada da cabeça aos pés em um ambiente essencialmente melancólico.

Continuando exatamente de onde parou há poucos anos, o novo álbum – registro que fecha a trilogia iniciada em 2008 – conforta a cantora (e o público) dentro de um cenário em que a tristeza é a única resposta. Da autointitulada canção de abertura, ao isolamento que preenche os versos e arranjos de Sleeping Alone, no encerramento do disco, todos os aspectos do terceiro álbum solo da cantora emanam abandono, recolhimento e a mais profunda tristeza. Aspectos redundantes nas mãos de outros artistas, mas ainda inéditos dentro da saga macambúzia de Li.

Mais uma vez acompanhada por Björn Yttling (do grupo sueco Peter Björn and John), a cantora se transforma na matéria-prima volátil de todo o trabalho. Brincando com um catálogo de experiências líricas recentes – naturalmente sustentadas por temas típicos de um pós-relacionamento -, Li atravessa a falta de esperança para encontrar conforto, afinal, como já havia anunciado nos versos sóbrios de I Follow Rivers, uma das grandes faixas do disco passado, a aceitação se revela como como a única opção para o indivíduo de coração partido. Entretanto, mesmo aceitando o próprio sofrimento, Lykke Li mais uma vez se aproxima do drama, fazendo com que o ouvinte navegue por um mar de lágrimas tão atraente, quanto doloroso.

Ponto final dentro da trilogia melancólica lançada há cinco anos, I Never Learn é ao mesmo tempo um trabalho que ecoa como um suspiro aliviado e uma obra marcada por contornos épicos. Registro mais acessível da cantora até o presente momento, o disco se manifesta como um agregado inteligente de hits. De No Rest For The Wicked, passando por Just Like A Dream, Gunshot e Never Gonna Love Again, cada etapa do álbum assume a comunicação com o grande público, reflexo natural da presença de Greg Kurstin, produtor que já trabalhou com Ellie Goulding, Kelly Clarkson e P!nk, e que ocupa uma posição de comando em diversos elementos do trabalho.

Como uma viúva, ou talvez revelando a personagem escondida na capa cinza de Wounded Rhymes, Li estampa a imagem de I Never Learn com evidente maturidade. Longe do pop doce e por vezes tolo que adornava faixas como Dance Dance Dance, do registro de estreia, a cantora revela imponência e sobriedade, costurando um álbum que se faz denso em todos os aspectos. Não existe mais espaço para gracejos, suspiros típicos de pós-adolescentes ou mínimo descompromisso pop. Dos versos de Gunshot (“Anseio por seu veneno/ Como um câncer para a sua presa“) aos arranjos mórbidos de Never Gonna Love Again, cada passo dado pelo disco trilha um caminho de sombras e dor honesta.

Curiosamente a maturidade que impera no decorrer da obra está longe de isolar musicalmente o trabalho da cantora. Como já havia identificado no decorrer do álbum anterior, I Never Learn abraça de vez o pop tradicional, porém, encontrando argumentos para ecoar novidade. Mesmo em meio a arranjos orquestrais, como os de Just Like A Dream, é difícil não ser hipnotizado pela leveza essencialmente comercial que ocupa a obra. O que é No Rest For The Wicked se não uma adaptação inteligente dos conceitos lançados por Adele, Beyoncé e qualquer outro nome de peso da música pop? Créditos de Yttling, Kurstin ou da própria cantora, isso é irrelevante, mas o pop dentro do registro está longe de funcionar como uma fórmula pronta: é apenas uma ponte para um universo de possibilidades.

 

I Never Learn (2014, LL)

Nota: 8.6
Para quem gosta de: Bat For Lashes, Grimes e Lorde
Ouça: No Rest For The Wicked, Gunshot e Never Gonna Love Again

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.