Disco: “If You Wait”, London Grammar

/ Por: Cleber Facchi 10/09/2013

London Grammar
Indie/Alternative/Female Vocalists
http://www.londongrammar.com/home/

Por: Fernanda Blammer

London Grammar

Talvez ainda seja cedo para perceber, mas em poucos anos a herança deixada com o The XX no adorado XX, de 2009, começa a borbulhar pela obra de uma série de artistas recentes. Ainda que a pequena legião de ouvintes digam o contrário, If You Wait (2013, Metal & Dust), estreia do London Grammar parece se valer da mesma soma de conceitos que impulsionam a obra do trio “veterano”. Manifestações melancólicas pontuadas pela Soul Music, entalhes minimalistas e a necessidade em replicar o passado sem grandes alterações estruturais em relação ao presente.

Apresentado ao público em doses esporádicas ao longo dos meses, a estreia de Dot Major, Hannah Reid e Dan Rothman pode até convencer emocionalmente, mas ainda tropeça em estrutura. Ao trabalhar cada uma das composições em um detalhamento brando e de extrema proximidade musical, o trio acaba por condensar todas as referências em um cenário de plena similaridade, o que arrasta a obra sem grandes dificuldades. Se a beleza de Stay Awake, Strong e demais canções entregues previamente funcionava no isolamento, em unidade o cansaço é nítido, o que torna a audição até o fecho da obra um pequeno martírio.

Imagine todas as composições que circulam pela obra de Florence And The Machine, principalmente no álbum Ceremonials (2011). Agora exclua o que há de mais ensolarado na obra da cantora britânica, mantendo apenas as vocalizações dramáticas e os instantes mais sofredores. É exatamente isso que você encontra em If You Wait. Tudo é muito fechado, próximo musicalmente, o que traz no condensado de pianos obscuros um sentido de forte redundância entre as músicas, como se mesmo faixas distintas, a exemplo de Metal & Dust e Flickers se perdessem na composição estática da obra. Faltam instantes para respirar.

Mesmo na unidade e forte relação entre as músicas expostas em XX, cada faixa parecia anunciada em um esforço de pequenas pausas, solos e base para a canção seguinte, o que está longe de se repetir com a estreia do Londo Grammar. Tudo é muito similar, abafado, o que faz com que o ouvinte se perca entre as curvas e pequenos labirintos da canções. Em alguns instantes é possível esbarrar em conceitos muito próximos do Rhye em Woman (2013), entretanto, enquanto a obra da dupla Mike Milosh e Robin Hannibal se desfaz suavemente, a sonoridade do trio britânico se agrupa cada vez mais.

A dificuldade em atravessar o disco ou perceber a distinção entre as faixas de forma alguma exclui a capacidade do trio em brincar com versos de apelo sensível e canções essencialmente dolorosas. Ainda que a faixa-título, posicionada no fechamento do álbum, represente toda a melancolia da obra com verdadeira honestidade, ao longo do trabalho pequenas manifestações assertivas tiram a obra do enclausuramento. São músicas aos moldes de Wasting My Young Years (e o flerte com a eletrônica), ou outras como Strong, que ao afundar na década de 1980, pontuam o disco com um misto de nostalgia e confissão.

Desenvolvido em uma atmosfera ausente de pressa, If You Wait é uma obra a ser apreciada com nítida parcimônia, na mesma calmaria que impulsiona as canções do trio. Embora esculpido com acerto pela tríade, principalmente em relação aos versos, falta ao trabalho real presença e distinção em proximidade ao que ocupa a cena britânica. Efeito talvez resolvido com um bom produtor. É possível aproximar o trabalho do grupo de uma série de outros projetos recentes, prova de que mesmo a qualidade não sobrepõe a ausência de identidade. Ainda bem que há tempo para a banda solucionar isso.

 

London Grammar

If You Wait (2013, Metal & Dust)

Nota: 6.5
Para quem gosta de: The XX, Banks e Rhye
Ouça: If You Wait, Strong e Stay Away

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.