Disco: “II”, K-X-P

/ Por: Cleber Facchi 11/02/2013

K-X-P
Krautrock/Electronic/Experimental
https://www.facebook.com/kxp.official

Por: Fernanda Blammer

K-X-P

A repetição marcada das formas instrumentais, acordes, vozes e todo o aparato de elementos sonoros se revela de maneira necessária para aqueles que passeiam pelos ciclos marcados do Krautrock. Redundância instrumental à favor de um resultado que invariavelmente tende ao experimento. Dos veteranos do Can, Neu! e Faust à artistas recentes como Fujiya & Miyagi, Ultraísta e, talvez o melhor deles, Here We Go Magic, a repetição constante dos derivados musicais é o que garante continuidade ao gênero. Entretanto, é necessário perceber que o mesmo elemento capaz de garantir forças ao gênero, é o mesmo que o aprisiona em uma atmosfera de pouca inventividade, álbuns que olham para o passado de maneira coerente, mas se esquecem do presente.

Talvez a resposta para esse questionamento esteja nas mãos do trio de Helsinki, Finlândia K-X-P. Depois de um bem sucedido álbum lançado em 2010, o uso apurado de sintetizadores, encaixes conceituais que tendem ao sombrio e composições recheadas por melodias acessíveis estimulam o grupo a continuar com o trabalho de forma ainda mais inventiva e estranhamente acessível aos ouvintes não iniciados. Não por acaso a primeira faixa de II (2013, Minimal/Melodic) atende pelo nome de Melody, canção que perverte as redundâncias naturais do estilo em que está inserida, de forma a se transformar em um composto dançante, rápido e que cresce em uma mistura que percorre a eletrônica, o pós-punk e a música dance de forma vasta.

Contrariando a proposta que marca toda a extensão do primeiro disco, faixa após faixa a banda converte a atmosfera de estúdio para um ambiente instrumental voltado para o ao vivo. Dentro dessa proposta, não é estranho compreender o registro como uma imensa Jam Session soturna e consequentemente imprevisível, marca que a banda alimenta na transformação constante das faixas, incertas e capazes de romper com qualquer relação provavelmente alicerçada no trabalho anterior. Ora mergulhando em túneis de ruídos, ora possibilitando o surgimento de uma verdadeira massa de sintetizadores intransponíveis, o uso assertivo das reformulações musicais é o que alimenta a atual fase da banda.


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Em alguma medida, as sequências bem amarradas de guitarras dançantes, vozes complementares e batidas eletrônicas aproximam a banda da mesma proposta que caracteriza boa parte da formação do primeiro álbum da alemã Neu!. Lançado em 1972 e um dos maiores marcos do Krautrock, o disco é absorvido de forma cinzenta pelos finlandeses, transformando faixas como Magnetic North e Flags & Crosses em composições capazes de olhar para o passado, ao mesmo tempo em que mantém firme uma relação com o presente. É quase uma quebra do que naturalmente direciona outros trabalhos do gênero, com a tríade se mostrando capaz de manipular toda e qualquer referência de forma a produzir algo novo.

Contraditória, porém, é a tentativa da banda em soar maior do que ela realmente é, brincando vez ou outra com pequenos complementos instrumentais que parecem feitos apenas para encher o disco sem qualquer significado aparente. Efeito visível disso está nas mínimas inclusões atmosféricas espalhadas por toda a obra como descartáveis vinhetas. Espécie de aquecimento para o que a banda aprimora em suas grandes composições, Ydolem, RBJTEV, EKMVIV e Reel Ghosts atuam de forma contrária, por vezes quebrando com o climax e o ritmo crescente que alimenta a construção final da obra, mesmo erro que já se encontrava no trabalho anterior do grupo.

Quem abstrair as passagens pouco atrativas concentradas nas vinhetas semeadas pelo disco encontrará nas oito grandes composições uma sequência instrumental hipnótica, quase um transe. Do uso de vocais como mantras em In The Valley ao derramar de referências eletrônicas em Tears (Extended Interlude), a força musical que circula pelo álbum parece se expandir em cada nova audição, com cada uma das faixas assumindo um rumo incerto, mas que serve de complemento para as demais faixas.

K-X-P

K-X-P II (2013, Minimal/Melodic)

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Here We Go Magic, Ultraísta e Neu!
Ouça: Melody e Magnetic North

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.