Disco: “III”, Gui Boratto

/ Por: Cleber Facchi 08/09/2011

Gui Boratto
Brazilian/Electronic/Minimal
http://www.guiboratto.com.br/

 

Por: Cleber Facchi

Gui Boratto é um verdadeiro mestre no manuseio das “cores”. Em 2007 embora o nome correspondesse ao medo gerado por elas, o produtor paulistano faz de Chromophobia uma obra-prima da nova safra de projetos ligados ao minimal techno, se posicionando ao lado de nomes como The Field e Pantha Du Prince (que lançavam seus primeiros registros naquele momento) e trazendo um pouco de cor ao gênero, em sua quase totalidade inundado por registros frios e escuros. Detalhista e preciso, rapidamente o produtor – praticamente um artesão – se estabeleceria como um dos grandes nomes da eletrônica mundial, embora ainda hoje permaneça como um indivíduo praticamente anônimo em solo tupiniquim.

Livre das cores, texturas e alguns excessos de plasticidade – que em 2009 resultaram no irregular Take My Breath Away -, o paulistano faz de seu terceiro registro um trabalho cercado pelas sombras, propondo através de seus beats sincopados um universo de composições quase herméticas, profundamente precisas, mas que ainda assim mantém o mesmo espírito e a genialidade que lhe trouxeram destaque através de seu memorável primeiro disco. Percorrendo uma sonoridade e experiências que rompem os limites dos dois anteriores trabalhos, o disco simplesmente denominado de III (2011, Kompakt) dobra os limites da própria música minimalista, com Boratto encontrando apoio em outros setores da música.

Esqueça o aspecto demasiado artificial e redundante que tomou conta do anterior trabalho do paulistano, em seu terceiro disco apenas a inovação e doses imoderadas de ineditismo se fazem presentes em cada canto do álbum. Mais uma vez protegido pelo selo alemão Kompakt (casa de alguns dos maiores representantes do minimal techno contemporâneo), o produtor se aproxima com este disco de uma sonoridade muito mais sintética, pouquíssimo orgânica e em determinados momentos bem menos detalhista do que aquela projetada principalmente em seu primeiro e consagrado disco.

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Não estão mais lá as constantes sobreposições de efeitos, programações picotadas, texturas diversificadas e ruídos que ao serem algutinados formalizavam as composições de Boratto. Se antes era a busca por uma composição cada vez mais detalhada que movimentava faixas como Gate 7 ou The Blessing, agora, dificilmente faixas desse nível serão encontradas no desenvolvimento do trabalho, que ruma em busca de uma sonoridade cada vez mais simplista, ou apenas necessária. Menos “humano”, o álbum arquiteta sua constituição de forma quase matemática, com o produtor preparando suas criações de forma essencialmente sintética, não como músicas frias e sem vida, apenas cercadas de precisão.

Mesmo se movimentando como um registro opaco, seco e delineado em formas bem específicas, III abre espaço para que pequenos experimentos de Boratto possam ser encontrados em várias etapas do álbum. The Drill talvez seja a composição que melhor exemplifique a nova “fase” do produtor, que ao cruzar uma sonoridade ruidosa e obscura ao longo dos cinco minutos da faixa, se aproxima de um tipo de som que beira o Industrial, rompendo qualquer ligação com a sonoridade minimalista e introspectiva de outrora. Algo que ainda se repete em Galuchat e Striker, ambas faixas que cheiram aos anos 80 e parecem simplesmente incompatíveis com os dois anteriores trabalhos do paulistano.

Cercado por suas próprias estratégias musicais, III acaba resvalando apenas quando rompe com este mesmo limite, algo que vem representado através da faixa This Is Not The End (mais uma parceria com a cantora Luciana Villanova, a mesma que empresta seus vocais para a faixa Beautiful Life do primeiro disco), composição que mesmo agradável acaba se materializando de forma desnecessária ao observarmos o restante do álbum. O deslize, entretanto, não proporciona grandes prejuízos ao disco, que logo na faixa seguinte, Trap, volta ao seu rumo e fecha o trabalho de forma competente, com Boratto passando longe de cometer os mesmos erros de outrora.

 

III (2011, Kompakt)

 

Nota: 8.0
Para quem gosta de: The Field, Pantha Du Prince e Ricardo Villalobos
Ouça: The Drill

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.