Disco: “III”, Seychelles

/ Por: Cleber Facchi 18/02/2013

Seychelles
Brazilian/Rock/Alternative
http://www.sey.art.br/

Por: Allan Assis

Seychelles

São Paulo talvez seja uma das cidade mais frutíferas para se começar uma banda, e também rota obrigatória se a intenção for viver de música – salvo exceções, claro. Mas diante de todas as opções que a cidade oferece numa sexta-feira à noite, o que determina que banda você vai querer assistir afinal? A resposta você encontra no terceiro álbum dos paulistanos do Seychelles, III (2013,  Pisces Records). Afastando-se ainda mais da certeira e previsível fórmula pop rock, que embala os hits de rádio e programas de TV, o quarteto opta por construir músicas recheadas de riffs de guitarra e uma trabalhada sonoridade que bebe diretamente do rock da década de 1970. Distorções que nasceram nas mãos de bandas como Secos e Molhados e Mutantes ganham uma camada extra de raiva urbana, resultando em um composto renovado e, consequentemente, dançante.

Em atuação desde o último estouro de bandas nacionais, o Seychelles completa dez anos de existência com o lançamento do álbum que reforça a alma do próprio grupo. Produzido pelo  baixista Renato Cortez ao longo de três anos e em sete estúdios diferentes, o cuidado em torno da obra revela aos poucos seus frutos. Além de dar continuidade ao já competente trabalho iniciado em Ninfa do Asfalto (2005) e no mais recente Nananenem (2008), o disco mostra novos horizontes ao alcance do quarteto, como os instantes de calma que invadem algumas músicas, mas nunca diminuem os sons conceituais com ares setentistas que pesam nas guitarras e vozes.

Salvem as crianças abre o trabalho com os acordes impecáveis da guitarra de Fernando Coelho e a voz hipnótica de Gustavo Garde. Buscando refúgio na psicodelia, Edgard Scandurra (Ex-Ira! e velho parceiro da banda) toma o microfone emprestado em Amigo Impulsivo, enquanto a banda faz backing no refrão de maneira mecânica, quase robótica ao fundo da canção. Com a participação de Scandurra, a presença de um solo firme de guitarra é algo quase previsível, proposta que se manifesta de forma bem dosada e de encaixe sem sobras no decorrer da faixa. A agressividade acumulada sofre um corte cru em From the Roads, faixa que começa enevoada, seguindo os pulsos da bateria para construir um meio folk que dá uma pausa na loucura paulistana instalada pelo disco. Algo como um breve respiro para admirar a paisagem em meio ao caos urbano.

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Com Viaturas em Chamas a banda prova a excelência nas composições. Carlos Alborghetti faz uma participação, ainda que póstuma, com suas frases sempre recheadas de indignação. Os berros ásperos caem como luvas na quase pós-apocalíptica letra: “Os canibais estão salivando/ Querem seu voto e seu coração”. Entretanto, é preciso notar que o artifício de usar frases e complementos textuais de pessoas externas  para complementar as ideias do grupo não é algo inédito. Basta lembrar de Jazz do Porto, canção que tem a letra engrandecida por conta do acréscimo de um fado português ou ainda Terceira Pessoa, poema de Fernando Pessoa musicado anteriormente pela banda.

Fuore del Cuore chama o circo à cidade. Com letra em espanhol e ares de marcha de Carnaval, a faixa comprova o que o ouvinte já havia notado desde a primeira virada de bateria: o rock do Seychelles é feito para dançar. E como são raras as bandas que acertam isso com um ou dois acordes. A goiana Black Drawing Chalks vinha levando a tarefa de forma quase solitária até então. Entretanto, é preciso notar que a proposta do quarteto é vasta, há lugar também para momentos guiados pela tristeza (A serpente e o Dragão), beleza (Ghosts are Gone) e até uma investida experimental na  música eletrônica proporcionada pelos sintetizadores da instrumental Appaloosa.

III é um trabalho urbano, e sem dúvidas nasceu da loucura paulistana, aglomeração de sons de buzinas e reclamações de trânsito que acabaram por inspirar as linhas de baixo e solos de guitarra perdidos pelo disco. Ainda há raiva e o genuíno grito de um cidadão de metrópole em sua sonoridade, mas também a estafa de quem sente que só aquele mundo de gente já não basta. Passado o primeiro calor e deslumbre de São Paulo, é preciso pegar ar e respirar fundo pra continuar em frente, como um fim de semana longe de tudo ou um longo feriado. A banda segue com o pulsante sangue paulista, regado a confusão e pressa, mas o universo agora se expande, quem sabe eles não te levam pra dar uma volta por aí.

Seychelles
Seychelles III (2013, Pisces Records)

Nota: 7.6
Para quem gosta de: Andeor, Cérebro Eletrônico e Secos e Molhados
Ouça: Visão Além do Alcance, Amigo Impulsivo, Viatura em Chamas

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.