Disco: “Ilo Veyou”, Camille

/ Por: Cleber Facchi 28/10/2011

Camille
French/Singer-Songwriter/Experimental
http://www.camille-music.com/

 

Por: Fernanda Blammer

Camille Dalmais sempre foi uma aficionada pela música brasileira. Melhor exemplo da profunda aproximação da cantora francesa com a sonoridade tupiniquim está nas experiências com o samba e a bossa nova realizadas através de sua banda, o Nouvelle Vague, projeto que se destaca como uma das principais vocalistas. Entretanto, é através de seus projetos em carreira solo que a musicista realmente expõe toda sua conexão com nossa música, cruzando as velhas experiências exaltadas por João Gilberto dentro de um universo particular, único e encantadoramente excêntrico.

Sempre desenvolvendo suas composições de maneira mutável e apresentando projetos carregados de vastidão instrumental e lírica – claro, dentro dos limitas da bossa nova e da chanson française -, Camille chega agora ao seu quarto registro de inéditas, o primeiro após um longo intervalo de três anos. Dividida entre composições doces e amarguradas, a jovem musicista transforma Ilo Veyou (2011, Virgin/EMI) em um projeto peculiar e que parece transitar dentro de um ambiente totalmente próprio.

Visível herdeira das excêntricas experiências sonoras de Björk, a francesa vai desenvolvendo o trabalho sem qualquer necessidade em promover um álbum virtuosamente acessível ou que precisa dialogar com o grande público. Ao mesmo tempo em que tudo se organiza de maneira bela e até comovente em alguns pontos, a estranheza instrumental e (principalmente) vocal de algumas faixas tornam a funcionalidade do trabalho única. Assim como nos anteriores registros da cantora, tudo ecoa de forma original, doce e intrigante.

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=Dqzv3nVEkeI]

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=u8jxtOKcpgU]

Diferente do anterior álbum, Music Hole de 2008, em que utilizava o próprio corpo como um instrumento musical – praticamente uma variação do estranho Medúlla de Björk -, em sua nova experiência musical Camille surge adornada de pequenos sons e peculiares instrumentos. Mesmo a mínima inclusão de arranjos de cordas, violões, guitarras ou instrumentos de percussão surgem exmplorados de forma peculiar, percorrendo um caminho distinto de qualquer possível projeto pop convencional.

Acima de tudo, o elemento principal de Ilo Veyou não está na excentricidade de sua instrumentação ou no variado jogo de versos que delimitam o trabalho, mas sim na voz de Camille, que aqui surge fragmentada em distintas frequências e formas. Se em Allez Allez Allez ela se apresenta de maneira completamente remodelada, como se fosse na verdade um coro estranhos seres musicais, logo na faixa seguinte, Wet Boy, temos um oposto disso, com a jovem se revelando dentro de um delineamento melancólico e incrivelmente acolhedor, transparecendo assim toda a versatilidade da cantora.

Embora agradável e capaz de manter o ouvinte preso até seus últimos segundos, Ilo Veyou acaba pecando pelo excesso de composições. O que poderia se transformar em um registro bem planejado de 11 ou 12 faixas acaba se revelando como um trabalho que perde o fôlego por conta de suas 15 composições. Camille, entretanto, segue desafiando suas próprias lógicas, pervertendo a bossa nova e outros distintos estilos musicais em prol de um registro que parece dotado de uma marca apenas sua.

 

Ilo Veyou (2011, Virgin/EMI)

 

Nota: 7.3
Para quem gosta de: Nouvelle Vague, Cibelle e Charlotte Gainsbourg
Ouça:  Mars Is No Fun e Allez Allez Allez

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.