Disco: “I’m New Here”, Gil Scott-Heron

/ Por: Cleber Facchi 18/12/2010

Gil Scott-Heron
Soul/Jazz/Funk
http://gilscottheron.net/

Por: Cleber Facchi

Como reintroduzir um artista ao meio musical passados quase vinte anos desde seu último lançamento? De que maneira apresentar a um público totalmente novo um músico que tem seus maiores (se não únicos) sucessos criados apenas na década de 1970? A resposta para essas perguntas? Aprenda com Gil Scott-Heron.

Em 1994 quando lançou seu último trabalho de estúdio – Spirits – o poeta Gilbert Scott-Heron era apenas uma sombra do que outrora havia sido nos anos 70. A indústria da música por sua vez estava muito mais interessada em novas sonoridades que surgiam na época, seja o grunge ou a música pop, mas o fato é que não havia mais espaço para a soul music de Scott-Heron. O músico por sua vez se isolou em meio ao vício em cocaína e problemas judiciais, que cada vez mais o afastavam da carreira musical em si.

A partir de 2007 o músico começou o que seria seu mais novo trabalho, contudo o projeto seria paralisado meses depois, em virtude de novos abusos com as drogas. Em 2009 cercou-se com sua antiga banda, além de convidar Damon Albarn (Blur e Gorillaz), Chris Cunningham e outros músicos fissurados por sua discografia para integrarem as composições do novo disco: I’m New Here (2010).

O novo álbum de Scott-Heron é uma síntese de tudo que o músico é agora: uma pessoa nova, em um lugar novo cantando para um público que nunca ou pouco ouviu falar de seus trabalhos anteriores. Em I’m New Here o poeta nos guia através de sua voz para um mundo obscuro que pouco remete aos antigos álbuns de música soul do artista.

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A instrumentação do disco é praticamente inexistente. As faixas transitam em uma musicalidade simplista, algumas esparsas batidas, além de uma percussão obscura. O foco do álbum é sem dúvidas a voz de seu interprete. Da primeira à última faixa são os vocais graves e desgastados do músico que nos encaminha por canções que tratam de sua vida triste, seus abusos, desafetos e a nostalgia dos tempos áureos. Boa parte das faixas são apenas poemas declamados por Scott-Heron, criando um laço extremamente intimista com o ouvinte.

O disco abre e fecha com On Coming From A Broken Home Pt. 1 e Pt.2 servindo de introdução e desfecho para a mais nova obra do músico. A regravação de Me and The Devil – originalmente composta pelo pai do blues Robert Johnson – aqui “cai como uma luva” para o poeta, que de fato pode dizer ter se encontrado com o demônio. O álbum segue em meio a interlúdios com declamações de poemas e conversas durante a gravação, gerando um clima descontraído e dinâmico ao álbum.

Em meio à melancolia surge a belíssima New York is Killing Me com sua instrumentação feita à base de palmas em looping e suaves acordes de teclado esbanjando, mais uma vez, o brilhantismo vocal do músico.

I’m New Here vem para introduzir a nova geração ao som e à discografia de Gil Scott-Heron mostrando que mesmo após 40 anos a sonoridade produzida por ele ainda se mostra atual e inovadora.

I’m New Here (2010)

Nota: 8.7
Para quem gosta de: Fela Kuti, The XX e Gonjasufi
Ouça: New York Is Killing Me

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.