Disco: “Impossible Truth”, William Tyler

/ Por: Cleber Facchi 22/07/2013

William Tyler
Instrumental/Folk/Rock
http://www.williamtyler.net/

Por: Cleber Facchi

Crescer em Nashville, Tennessee teve uma importância fundamental para o trabalho e as composições de William Tyler. Berço de alguns dos projetos mais relevantes da cena Country de diferentes épocas, a cidade borbulha de forma criativa nas manifestações bucólicas proclamadas pelo instrumentista, que ao alcançar o segundo registro em carreira solo atravessa uma centena de paisagens musicais intimamente relacionadas com a cidade de origem. Dono de um som delicado e sempre intimista, o veterano de bandas como Lambchop e Silver Jews encontra um ponto de plena compreensão sobre a própria obra, transformando Impossible Truth (2013, Marge) em uma extensão natural de tudo o que vem aprimorando há mais de uma década.

Em busca de um som menos limitado do que o imposto em Behold the Spirit (2010), Tyler faz do novo registro um ambiente de ideias bem decididas e sons de fluência particular. Por mais que a herança acumulada desde o fim da década de 1990 com o trabalho em outras bandas seja evidente, à medida em que as canções são exploradas, a formação de um cenário musical específico decide os rumos do projeto. Mais uma vez distante dos versos (raros pelas gravações do disco) e tendo na guitarra o principal elemento guia, o norte-americano favorece a criação de um universo musical reservado e sempre atento ao detalhe.

Como se buscasse contrapor a “limitação” de uma guitarra, Tyler usa do novo álbum como um registro de possibilidades para o instrumento. Cada faixa assume na orquestração sublime dos arranjos um jogo de transformações capazes de distanciar o álbum do óbvio, exercício que força o próprio músico a se converter em funções distintas durante todo processo do álbum. Enquanto Country of Illusion fraciona uma mesma guitarra em diferentes funções – indo de bases em slide até dedilhados cuidadosamente explorados -, faixas aos moldes de Last Residents of Westfall e The World Set Free incorporam no uso de camadas abafadas um novo rumo ao disco.

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=xSCfz9pXLvw?rel=0]

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=RqSxhK2Bsys?rel=0]

Trabalhado em uma estrutura menos específica que a imposta no disco anterior – quase uma continuação dos mesmos detalhamentos incorporados com o Lambchop -, Impossible Truth assume em cada música um propósito específico. Se por um lado Country of Illusion e Cadillac Desert desenvolvem de maneira coerente as mesmas interpretações musicais de Tyler com o Alt. Country, músicas como We Can’t Go Home Again trazem a influência da década de 1970 como principal apoio instrumental para a obra. Valendo da mesma timidez sonora entregue por Nick Drake no clássico Pink Moon, a faixa serve para anunciar o distanciamento do músico das guitarras, fazendo da trama de violões um exercício essencialmente abrandado e ainda assim atrativo.

Para a segunda metade do disco, o reforço nas distorções e uma visível aproximação com a obra do Silver Jews mudam os rumos do trabalho. Ora íntimo do cancioneiro de raiz, ora capaz de raspar em elementos caricatos do pós-rock, Tyler deixa as guitarras crescerem livremente em Hotel Catatonia e principalmente The World Set Free. Enquanto a primeira entrega ao sertanejo um alinhamento pouco convencional, a segunda traz na extensa duração um condensado musical que se permite perfumar pelos ruídos. Única canção do disco a explorar elementos percussivos, a faixa traz nas batidas uma ruptura, deixando os arranjos de violões em segundo plano, quase como um preparativo para a chegada de guitarras posicionadas de forma ascendente.

Há no movimento de referências pelo disco um sentido pleno de nostalgia, como se boa parte das canções apresentadas pelo músico já fossem parte natural de qualquer ouvinte – seja ele conhecedor da obra prévia do músico, ou não. Entretanto, mesmo alimentado desde a primeira música por um sentido de previsibilidade, William Tyler incorpora no manuseio dinâmico das guitarras um princípio constante de novidade que se propaga com firmeza pelo disco. Um meio termo entre a hipnose de se deixar conduzir apenas pela performance sublime dos sons, e a atenção constante em busca de cada detalhe.

Impossible Truth (2013, Marge)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Lambchop, Silver Jews e Steve Gunn
Ouça: Cadillac Desert, We Can’t Go Home Again e The World Set Free

[soundcloud url=”http://api.soundcloud.com/tracks/70385017″ params=”” width=” 100%” height=”166″ iframe=”true” /]

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.